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“Cidadão de bem”

“Deus me livre do cidadão de bem”. A frase irônica, estampada em um muro qualquer, me fez lembrar de uma personagem do romance O segredo da boneca russa que era considerada “cidadão de bem”, por ser trabalhador, temente a Deus e chefe de família.

Desde jacobinos e girondinos, há pessoas que se autodenominam “de bem”, em oposição às “corruptas” e “canalhas”. O problema com a expressão é a arrogância e discriminação; os maus são sempre “os outros”, especialmente os simpatizantes ou ativistas de movimentos sociais que lutam por inclusão e igualdade dos grupos mais vulneráveis. Desenhando: povos indígenas, negros, imigrantes, mulheres, comunidade lgbtqia+ e tais.

Não há nada mais contraditório do que gente adepta de doutrinas religiosas, cujo princípio básico é a tolerância e o amor ao próximo, querer eliminar os “diferentes”. Onde ficam os valores humanos nessa guerra ideológica? Precisamos todos de um mínimo de paz.

Pra começar, que tal rompermos com esse radicalismo “de bem”? Descermos do pedestal moral, entendermos que somos humanos cheios de falhas e que a superioridade – para quem insiste mantê-la – consiste em reconhecer isso. Um banho de ética, quem sabe?!

É possível ser conservador e ter compaixão pelos que sofrem preconceito sexual ou étnico-racial? É possível ser progressista e ter empatia por quem vive um relacionamento nos moldes tradicionais? Torço muito que sim.

O indivíduo verdadeiramente ético não precisa ser religioso, operário padrão ou pai|mãe de família. Precisa, sim, respeitar os outros, independente de ideologia, e zelar pelo bem-estar coletivo. Parar no semáforo vermelho, usar cinto de segurança e máscara de proteção contra doenças respiratórias contagiosas, para citar apenas o corriqueiro. Não porque o descumprimento de leis implique em duras penalidades, mas porque é o melhor para todos.

A personagem “de bem” a que me referi acima era um respeitável médico e militar; na surdina, abusava de meninas pretas e torturava presos políticos. Depois dessa, só resta unir-me à prece do compositor paraibano Chico César: “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa”. Amém!

*Texto publicado originalmente no blog “Mural da Ana Paula”, onde escrevo mensalmente nos terceiros sábados.


Prazer!

Vejo gente nova por aqui. Pensei, então, em contar um pouco sobre mim, de como me tornei escritora, e aproveito para renovar laços com as queridas e queridos de sempre.

De jovem pedagoga à jornalista tardia voaram três décadas.

Nesse meio-tempo, casei (e permaneço), fui mãe de humanos e bichinhos, servidora pública, morei em Paris uma curtíssima – mas intensa – temporada que daria tranquilamente uma série “Celma em Paris”, habitei Nova Iorque, fui executiva de marketing em empresa privada e repórter.

Até que migrei de laptop e mouse para o mundo literário.

Foi a vivência em Nova Iorque, com dois filhos menores, que rendeu memórias para o primeiro livro (“Descascando a grande maçã”), narrativa leve e bem-humorada dos perrengues na famosa ilha que nunca dorme.

E chegou o primeiro neto.

Aos sessenta, veio o segundo livro (“Viver, simplesmente”), seleção de crônicas, artigos e reportagens publicados originalmente em plataformas diversas, presente da minha editora pelo meu ingresso na década “sexy” (fazer o quê? Sou adepta de celebrações em todas as fases).

O segundo neto, digo, a primeira neta chegou enquanto eu gestava o primeiro romance (“O segredo da boneca russa”), lançado em fins de 2018.

Dois anos depois, a estreia no gênero conto com a coletânea “Confinados”, em meio ao luto coletivo da pandemia e à perda da minha única irmã para a Covid-19.

Preparo agora uma nova cria, romance ou novela, ainda não sei. Certezas, pra quê?

Como em toda trajetória, altos e baixos, perdas e ganhos, uma fratura grave no tornozelo que esfacelou ossos e mandou minha mobilidade pro espaço por meses, trazendo lágrimas e ensinamentos.

Aos 65, acredito que tenho lastro para falar da vida. A parte mais difícil é conviver respeitosamente com os contrários, ao invés de eliminá-los, como querem alguns. O que precisa ser combatido sem trégua é o mal que habita o íntimo de cada um, só esperando a hora de nos tragar, sem nos dar a chance sequer de reconhecê-lo. “– Fascismo, onde?”

É isso, gente querida. Bem-vinda ao meu universo mutante e a este lugar onde compartilho, há dez anos, o cotidiano que me encanta e inquieta.

Bom domingo!


Negar é preciso (*)

Quantas vezes você já aceitou um convite quando o seu racional lhe implorava um sonoro e firme ‘não’, só para não magoar um amigo ou para, simplesmente, não parecer antipático?

A dificuldade para dizer ‘não’ parece ser da metade da humanidade, a outra metade simplesmente fala ‘sim’. Agora, no sério. Por uma questão cultural, nós brasileiros sentimos enorme dificuldade para pronunciar essa palavra com apenas três letrinhas, mas que tem mais força do que o campeão de sílabas ‘inconstitucionalissimamente’. Deve vir daí a nossa fama de simpáticos, ‘astral’, de bem com a vida e outros rótulos que fazemos questão de manter, mesmo que nos custem muitos dissabores.

Dizer que não vai à festa de aniversário do seu amigo, ou ao fim de semana na praia com a turma, ou ainda ao programinha de sábado à noite com a galera, e mais àquela viagem com os colegas no feriadão, é mais difícil do que se pensa. Muitas vezes não vamos, mas não temos coragem de negar. Será que não é pior deixar o outro a ver navios? Sim, mil vezes sim, e nós sabemos disso, mas mesmo assim não conseguimos dizer ‘não’.

Você certamente já esteve em ambas as situações, levando um cano ou dando um bolo. E, cá entre nós, ‘cano’ e ‘bolo’ só são interessantes no dicionário etimológico. No primeiro caso, você se sente a Cinderela abandonada e no segundo, a madrasta da pobrezinha. E pensar que tudo poderia ser resolvido com um simples ‘não’, firme, sincero e suave… Impossível? Veremos.

Povos europeus, por exemplo, lidam melhor com negativas, sabem falar ‘não’ com firmeza, são mais francos e objetivos em situações do tipo. O que para nós pode soar falta de gentileza, para eles não passa de uma atitude normal adulta. É um respeito a si próprio e aos outros.

Não estou me referindo aqui aos convites indesejáveis, nem tampouco àquelas pessoas que nunca aceitam chamados. Para esses extremos, o melhor a fazer é riscar do seu mailing, antes que o sentimento de rejeição acabe por lhe levar ao primeiro consultório psiquiátrico da escassa lista dos planos de saúde, sem chance de alta nos próximos anos.

Especialistas alertam para a falsa ideia de harmonia que o ‘sim’ traz, uma vez que o conflito continua lhe perseguindo, simplesmente porque ele está dentro de você. “Por que eu não neguei logo”? “E se eu tivesse dito um ‘não’, será que eles me convidariam novamente?” É também esse receio de ser excluído do grupo e de não ser visto como um deles, que lhe faz eliminar a negativa do seu google.

Nos últimos meses tive que superar o medo de dizer ‘não’. Mergulhei de roupa e tudo em um projeto pessoal e precisei separar, na minha agenda eletrônica, as ações adiáveis das mais urgentes. Isso não significa que as primeiras tivessem menos importância para mim. Elas continuam sendo prioridades, mas naquele exato momento fui obrigada a fazer escolhas, prerrogativa de gente grande, de adultos que somos.

Com isso, deixei de comparecer a encontros mensais com queridas amigas, não pude participar de momento prazeroso com parentes que vieram de longe, dei um tempo nas atividades físicas que eu não passava sem, recusei convites bem interessantes, faltei aos almoços com familiares aos domingos…

O incrível de tudo isso é que sobrevivi e nem doeu tanto. Saber dizer ‘não’ sem agredir, explicar, desde que usando de sinceridade, que você preferiria aceitar o chamado, mas infelizmente não será possível daquela vez, também pode ajudar a lidarmos com esses conflitos e não desapontar a quem devotamos carinho e consideração. Portanto, saber dizer ‘não’ é necessário, mas precisamos ser cuidadosos com a forma de como negar, para não ferir a sensibilidade dos nossos patrícios.

Todo o treinamento recente não conseguiu me capacitar por completo. O episódio que cito a seguir me inspirou a compartilhar o tema com o caro leitor. Às voltas com a finalização do meu primeiro livro de crônicas, o tal projeto pessoal de que falei ainda há pouco, recebi dois convites carregados de afetividade, aos quais não pude negar. Um foi para participar de uma entrevista para uma revista-laboratório do curso de Jornalismo da universidade na qual me graduei. O outro, para escrever para uma bem conceituada revista nacional de moda e comportamento. Resultado: mesmo afastada por uns dias da redação, já respondi à entrevista por email e concluo agora o texto para a revista. Disse ‘sim’ a ambos, mas o fiz de bom grado, com o maior prazer, sem conflitos. É um bom sinal. Convido-o a começar!

(*) Artigo de Celma Prata publicado, originalmente, na edição de junho/2012, da Revista Moda Shoes Brasil


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