Fui adotada, aos dois meses de idade, por uma família que me acolheu com muito amor.
Fui recebida por uma menininha de 10 anos, que me pegou no colo e me deu o carinho que todo ser necessita.
De todos de casa, recebi afeto, cuidados, alimentos, remédios e ensinamentos.
Eu os vi indo embora por um tempo.
Eu os vi voltar para sempre.
Compartilhei todos os momentos, tristes ou alegres, da minha ‘família’.
Eu vi meu ‘irmão’ tornar-se homem feito, namorar, ganhar a vida e se casar.
Eu vi minha ‘irmã’ trocar os brinquedos pelas festinhas, se formar e se casar.
Eu vi meu ‘avô’ falecer.
Eu vi minha filhinha ir-se para sempre.
Eu vi meu ‘pai’ fazer 60 anos.
Vivi momentos marcantes do meu país e do mundo.
Eu vi um índio Pataxó ser queimado vivo por cinco jovens da classe média alta de Brasília.
Eu vi o Brasil e o ‘Fenômeno’ amarelarem na Copa de 1998, enquanto eu dava à luz.
Eu vi a virada do milênio e o Bug ser transformado em piada.
Eu vi a esquerda política brasileira eleger e reeleger, democraticamente, um Presidente da classe operária.
Eu vi o atentado às Torres Gêmeas.
Eu vi o Brasil, finalmente, ser pentacampeão mundial de futebol em 2002.
Eu vi ser eleito o primeiro Presidente negro dos EUA.
Eu vi a crise financeira dos EUA e da Europa respingar por todo o planeta.
Eu vi ser eleita a primeira mulher Presidente do Brasil.
Dei muito trabalho, chateações, preocupações, essas coisas comuns a todos os ‘filhos’, principalmente quando estava apertada e não dava tempo de chegar ao ‘banheiro’.
Mas eles sempre me fizeram sentir amada, respeitada e me fizeram acreditar que eu lhes dava muita, muita alegria.
Até das pessoas que não curtiam muito o meu jeito de ser, tive demonstrações de afeto.
Fiquei idosa, cansada, frágil e doente. Sentia-me como se tivesse 120 anos e os médicos garantiam que tinha mesmo.
Não chorem, não lamentem pelo que deixaram de fazer ou não puderam fazer, lembrem-se de mim com alegria, é a melhor forma de me homenagear.
Da sempre de vocês,
Buba