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Com um pé no Douro (*)

As vindimas do Douro, entre agosto e outubro, são uma verdadeira celebração que se reinicia a cada manhã com a colheita das uvas e termina à noite com a pisa nos lagares

Rio Douro margeando encostas de Lamego cobertas de videiras

Rio Douro margeando encostas de Lamego cobertas de videiras

Na véspera de partirmos rumo ao Douro, norte de Portugal, pedi à minha pedicure: “Fran querida, capriche aí, pois esses pezinhos poderão esmagar as uvas da melhor safra de vinho tinto duriense!”.

Após um pernoite básico em Lisboa para rever velhos amigos, devorar meia dúzia dos inimitáveis pastéis de nata e escalar – de salto (vacilo!) – as ladeiras da Alfama para chorar com os maravilhosos fadistas, pegamos a autoestrada em direção à primeira região vinícola demarcada do mundo, famosa pelos seculares Vinhos do Porto e, mais recentemente, pelos vinhos de mesa. Em quatro horas, incluindo algumas paradas para abastecermos carro e estômagos, o navegador nos deixa nos jardins da bela Quinta da Pacheca, em Lamego, a poucos minutos de Peso da Régua, ou simplesmente Régua.

Vista parcial das parreiras na Quinta da Pacheca, em Lamego, Portugal

Vista parcial das parreiras na Quinta da Pacheca, em Lamego, Portugal

Recepcionados pela bem treinada equipe da vinícola, já fomos fotografando vales e paisagens. Nosso grupo era formado por 22 pessoas de várias partes do mundo, ávidas para conhecer aromas e sabores das castas mais emblemáticas da região, como as tintas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, e descobrir “o que é que o vinho do Douro tem”.

Ricardo de Santos, consultor da vinícola, conduzindo a prova de vinhos

Ricardo de Santos, consultor da vinícola, conduzindo a prova de vinhos

Por volta das 7 da noite, sol ainda esperto, compartilhamos longas mesas de madeira ao ar-livre, de frente para encostas cobertas de parreiras a perder de vista. Começa a prova de vinhos de mesa do Douro e Porto Vintage, conduzida pelo escanção (designação portuguesa para sommelier) Ricardo de Santos. Parênteses: Em Portugal, aprendi a lição há alguns anos ao perguntar pelo shopping mais próximo: “Aqui falamos português, senhora, o ‘centro comercial’ fica logo ali!”.

Em breve explanação sobre o Vinho do Porto, Santos esclarece algumas dúvidas recorrentes, como a de que “garrafa aberta é garrafa consumida”. Dependendo do tempo de envelhecimento, “o Vinho do Porto pode ser consumido até um ou dois anos depois de aberto, caso dos Tawnies 20 anos. Os de 10 anos suportam até seis meses abertos”. A classificação por idade do famoso licoroso, de acordo com o consultor da Pacheca, é subjetiva e obedece a regulamentos próprios. “Não se trata de idade real, 20 anos significa que o vinho se encaixa em determinadas características”.

Mais perguntas surgem entre os participantes. “E o que diferencia o Vintage e LBV (Late Bottled Vintage) dos outros vinhos do Porto?”. Santos responde relembrando uma passagem familiar: “Meu avô dizia que Vintage é quando Deus quer; os outros é quando o enólogo quer”. A última safra declarada oficialmente Vintage – um conceito de “perfeição” –, foi a de 2011. Vintage e LBV pertencem à categoria Ruby, vinhos que envelhecem bem em garrafa, sendo que a chamada “joia da coroa”, o Ruby Vintage, fica os primeiros vinte meses em barril para depois concluir o envelhecimento em garrafa; já o Ruby Late Bottled Vintage, como a tradução sugere, é engarrafado bem mais tarde – após quatro a seis anos em barril – e destinado a consumo imediato. A segunda categoria de Vinhos do Porto, quanto ao estilo de envelhecimento, pertence aos Tawnies, que ficam em barril por período superior a cinco anos até quarenta anos. A região, segundo Silva, conta com 33 mil produtores. “Os pequenos sobrevivem através da venda de uvas para os grandes”. A maioria da produção (60 % a 70 %) é “exportada para a França”, confirma o consultor.

Um dos grupos pisando uvas nos lagares da Quinta da Pacheca

Um dos grupos pisando uvas nos lagares da Quinta da Pacheca

Entre um copo e outro de branco, tinto e Vintage, nessa ordem, fomos “pegando energia”, nas palavras de Santos, para o que viria a seguir. O consultor referia-se à lagarada, uma das etapas mais esperadas da visita. Vestimos padronizados calções de brim azul, em vestiários improvisados – masculino de um lado, feminino de outro –, protegidos por singelos biombos, o que não representou qualquer problema, àquela altura a química do vinho já havia transmutado severos códigos sociais. Largamos tudo no chão e nos cabides e corremos para os lagares, portando apenas smartphones e câmeras. Impensável não registrar um momento único como aquele.

Violeiros garantem a animação da pisa da uva com músicas típicas

Violeiros garantem a animação da pisa da uva com músicas típicas

Animados violeiros nos aguardam ao redor das duas fileiras de uma dezena de enormes tanques de pedra, cada um com capacidade para uma dúzia ou mais de pessoas, garantindo coreografias originais a quem se aventurar a imergir pernas e coxas em toneladas de uvas colhidas naquela mesma manhã. Há até quem arrisque passinhos do folclórico vira. Todos, sem exceção, vão abandonando o que ainda resta de timidez e cada tanque se transforma em uma grande celebração. O casal de brasileiros Anete Borella, professora, e Alessandro Paiva, analista de sistema, de Jundiaí (SP), está em viagem de lua de mel. “Eu me emocionei com a pisa nos lagares”, afirma a simpática Anete.

Celma Prata, do AgroValor, em um dos lagares, com o casal paulista, Anete Borella e Alessandro Paiva, que viajava em de lua de mel

Celma Prata, do AgroValor, em um dos lagares, com o casal paulista, Anete Borella e Alessandro Paiva, que viajava em lua de mel

Embora existam atualmente tecnologias ultramodernas que simulam a pisa a pé, a Quinta da Pacheca conserva o modo milenar e artesanal, considerado essencial para se extrair ao máximo a cor e taninos da casca da uva. O processo completo de fabricação é fiscalizado pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), órgão público situado em Peso da Régua, responsável pelo controle da qualidade e quantidade dos vinhos do Porto, e pela proteção das denominações de origem Douro e Porto.

Adega onde foi servido o requintado jantar ao som da fadista Cristina Marques e guitarristas

Adega onde foi servido o requintado jantar ao som da fadista Cristina Marques e guitarristas

Perto das 9 da noite, recebemos jatos coletivos de água nas pernas coloridas de mosto e, recompostos, somos conduzidos, longa escadaria abaixo, até a gigantesca adega da quinta para um superbanquete regado a muito vinho e show ao vivo da jovem fadista Cristina Marques e guitarristas, de Peso da Régua, dentro do projeto “Castas do Fado”. Cinco mesas quadradas, muito bem postas, de doze lugares, cada, recebem fartas porções de patanisca de bacalhau, arroz de pato, embutidos, pães artesanais, sobremesas, cafezinho e Vinho do Porto. Um regalo! O casal lisboeta, Sofia e José João Fonseca, estreava na lagarada em comemoração às suas bodas de prata. “É a nossa primeira vez na pisa, achamos muito giro!”, dispara a feliz Sofia. A animada mesa ao lado celebrava em família “o meio século do senhor Joaquim, como se diz na Régua”, anunciava repetidamente Cristina, entre um fado e outro.

Sofia e José João Fonseca, de Lisboa, estreavam na lagarada em comemoração às suas bodas de prata

Sofia e José João Fonseca, de Lisboa, estreavam na lagarada em comemoração às suas bodas de prata

Passava das 23 horas quando nos despedimos. Após demorado banho, deito na esperança de um dia me deliciar com o vinho feito por esses pezinhos que ainda não desbotaram totalmente. Franzinha, só você pra dar um jeito!

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Agradecemos à equipe da Quinta da Pacheca pela forma gentil com que fomos recebidos.
http://www.quintadapacheca.com

(*) Matéria publicada originalmente no Jornal AgroValor_Edição_115_setembro_2015
http://www.agrovalor.com.br

Crédito fotos: Celma Prata/AgroValor


Você acha isso certo?

“Dentro de uma semana, 9 mil doses da vacina contra o vírus Influenza podem ir parar no lixo”, foi a declaração impotente da jovem profissional de enfermagem do posto de saúde do Meireles, em Fortaleza, quando indaguei se a população abaixo dos 60 anos estava aderindo ao saldo restante da campanha nacional de vacinação contra a gripe.

“Não!”, foi a resposta seca de outra jovem profissional do mesmo posto, quando tentei, quatro meses antes, driblar a regra do limite mínimo de idade para a tal vacina. “Só depois da campanha, agora é exclusivamente para idosos, crianças e doentes crônicos”. Eu ainda tentei argumentar: “Mas faltam poucos dias para o término da campanha!”; “Eu já vou fazer 58…”; “Cuido da minha mãe idosa, se eu gripar, posso passar pra ela…”.

Ora, o governo gasta milhões de reais com publicidade para sensibilizar a população a aderir à campanha anual, e quando aparece alguém espontaneamente insistindo para se imunizar, a resposta é: “Volte depois da campanha, se sobrar…”. Que lógica torta é essa, hein? Não dá para aceitar calada, dá?

Existe o risco de morte por gripe? Sim, infelizmente. Embora dados oficiais deste ano registrem queda considerável no número de óbitos em relação a 2013, há Estados com percentual próximo a 10%, ou seja, de cada 100 pessoas infectadas pelo vírus Influenza, 9 vêm a falecer. Sinistro assim.

Neste 9 de outubro expira o prazo de validade das vacinas. A profissional que me atendeu hoje cedo calcula que até lá deverá aplicar, no máximo, 100 doses. Quando lhe falei que eu era jornalista e que iria divulgar a notícia em meu blog pessoal, ela agradeceu. “Faça isso, por favor!”

E aí, vamos usar nosso título de eleitor neste domingo para eleger mais compromisso e menos negligência?


O lado atrevido da ‘Foire’ (*)

Porteira_102_paris

A velha dama se renova e se deixa seduzir pelos prazeres que fizeram a fama da cidade do amor e dos amantes

O espaço ocupou irrisórios três por cento da área total da Feira Internacional de Paris (‘Foire de Paris’), exposição que acontece há 110 anos na capital francesa, durante doze dias, entre final de abril e começo de maio, mas foi o suficiente para dar uma sacudida no esqueleto centenário de um dos principais eventos da Ville Lumière.

Proibido a menores de 16 anos, o estreante ‘Espace Coquin’ (‘Espaço Atrevido’, em tradução livre) destinava-se a adultos interessados em conhecer e testar as novidades que podem dar uma apimentada nas relações amorosas entre quatro paredes.

No comando do local, uma jovem representante do colunismo erótico francês, Camille Emmanuelle, 33, que havia acabado de lançar, em Paris, um pequeno guia da capital francesa (‘Paris-Couche-Toi-Là’, ainda sem tradução para o português, algo como ‘Paris na Cama’), com cerca de sessenta endereços sugestivos de prazer e sedução. A moça garante que testou todos eles, de cursos e estabelecimentos de lazer a produtos, filmes e livros.

Em entrevista à CB News, Camille afirma que tem observado, nos últimos tempos, uma busca por maior equilíbrio no campo sexual. “As pessoas não querem mais sexo-tabu, mas também não querem sentir prazer sexual a qualquer preço, induzidas por publicidades fantasiosas, como ter três amantes, cinco orgasmos por dia ou 23 brinquedinhos sexuais. Os casais [hetero ou homo] procuram informações claras, simples e sem culpa.”

A pitada de ousadia na tradicionalíssima feira teve a total aprovação daqueles mais afoitos que não hesitaram em cruzar a criativa fachada produzida pelo designer Fred Bernard, o mesmo que ilustrou a obra de Camille. “É uma boa ideia! Mesmo que se possa encontrar sextoys na Internet, aqui a gente pode tocá-los e testá-los”, foi o comentário de uma visitante na faixa dos 40 anos.

No recinto ‘atrevido’ podia-se encontrar de brinquedos eróticos e cremes afrodisíacos a lingeries sensuais e livros temáticos para despertar a sensualidade que, segundo Camille, corre sério risco de ficar adormecida diante da correria e da mesmice do cotidiano. Junto às demonstrações das marcas expositoras, o erotismo também embalava shows de humor e magia, aulas de iniciação à pole dance e oficinas de escrita, leitura e poesia para os curiosos visitantes.

Curiosidade saciada e sensualidade despertada, é hora de explorar os outros noventa e sete por cento da “Foire”, como a exposição é chamada familiarmente pelos parisienses.

Sinalização colorida no piso e esteiras rolantes facilitam o passeio pelos cinco continentes. Os números são superlativos. Cerca de mil expositores com 3.500 marcas dispostas em uma área coberta de 220 mil m2. Mais de seiscentos mil visitantes absorvendo as últimas tendências em decoração, artesanato, moda, lazer e gastronomia, das mais diversas procedências. Sofisticação e tecnologia nas cozinhas planejadas e nas coberturas retráteis para piscinas. Mimos franceses feitos à mão, como as marionetes réplicas do ‘Gato de Botas’ ou do ‘Lobo Mau’, bonecas com cabeça e membros em porcelana e tronco em seda pura, além de delicadas luminárias de mesa ao estilo da norte-americana Tiffany. Sessenta shows musicais divertem os mais animados.

Enquanto pequenos grupos observam as talentosas mãos, em ação, de artistas plásticos e artesãos de vários países, outros degustam os melhores vinhos, destilados, queijos, embutidos e patês do mundo. E os divinos chocolates belgas. E as levíssimas crêpes e galettes francesas. Ofertas gastronômicas tentadoras, em torno de R$ 25, como o sanduíche (na baguette francesa, bien sûr!) de foie gras de pato, de Landes, acompanhado de uma taça de vinho branco Pacherenc de Vic Bilh, ambas regiões ao sudoeste da França.

Para Carine Preterre, diretora do evento, a Feira Internacional de Paris reúne tanto as grandes inovações como as pequenas curiosidades do mundo, “que tornam a vida mais bonita, útil e agradável”, declarou por ocasião da abertura prestigiada por Anne Hidalgo, em seu primeiro ato oficial como prefeita recém-eleita de Paris.

Espera-se que o ‘Espace Coquin’ tenha vindo para ficar. Ano que vem, quem sabe, novas filas de ‘atrevidos’ se formarão, ansiosas para desafiar a rotina e manter a sensualidade sempre alerta.

Como acontece desde a fundação do AgroValor, em 2006, este veículo mais uma vez se fez presente ao evento parisiense que cresce a cada edição. O toque indesejado deste ano ficou com a suspensão de ingressos-cortesia para a mídia estrangeira. Seriam os novos e rigorosos ventos econômicos europeus?

PROGRAME-SE PARA 2015
Feira Internacional de Paris
29 de abril a 10 de maio
Parque de Exposições da Porta de Versalhes
http://www.foiredeparis.fr

(*) Artigo de Celma Prata, originalmente publicado na Ed. 102 (agosto/2014), do jornal AgroValor
Ilustração: Lincoln Souza


Ameaças a recém-nascidas

Viva! Nós, fortalezenses, estamos a um passo de entrar para a história.

Nossa cidade é a única do mundo civilizado contemporâneo cujos moradores de determinada área dita ‘nobre’ ameaçam com argumentos toscos e nada cidadãos fazer um abaixo-assinado para acabar com as tímidas ciclofaixas recém-desenhadas em duas de suas vias.

Duas? Exatamente, caro leitor! Duas ruas por onde trafegavam exclusivamente caros – e poluidores – automóveis importados. Inclusive o meu.

Gosto de comparar coisas que, à primeira leitura, podem soar incompatíveis.

Fortaleza tem mais de 2,5 milhões de habitantes (estimativa IBGE/2013) e área de 314,9 km². Paris tem trezentos mil moradores a menos e superfície três vezes menor. “Então, Fortaleza tem mais ciclofaixas que Paris!”, alguém pode palpitar. Errado! Deveria, mas infelizmente está longe de ser assim.

Tenho até vergonha de registrar isso, mas – pasmem! – Fortaleza tinha até um mês atrás apenas dois quilômetros (agora são seis) de ciclofaixas, contra trezentos de Paris. Eu falei tre-zen-tos quilômetros!

Tudo começou quando, no primeiro domingo de agosto passado (4), alguns ativistas do movimento ‘Massa Crítica’ pintaram uma ciclofaixa temporária ao longo da minha rua. “Finalmente alguém despertou para o problema do excesso de carros que gera engarrafamentos insuportáveis em horários de pico!”, comemorei. A pauta dominou várias esferas e, trinta dias depois, a Prefeitura providenciou ciclofaixas definitivas.

A iniciativa, embora rasteira, tem o meu total apoio. Mas parece que sou minoria. Ao contrário do que eu esperava, a ação desencadeou uma enxurrada de protestos de moradores que se sentem incomodados ou lesados.

Comentários nas redes eletrônicas refletem tudo, menos cidadania ou senso de coletividade. “Não podemos mais estacionar os carros em frente de nossas casas”; “As ruas já eram muito estreitas, agora então”; “A quem interessam essas ciclovias (sic), porque, ciclista que é bom, nunca vi um passando por elas”.

Aqui e acolá, um depoimento mais sensato. “Acredito que após a ciclovia (sic) se tornar plena, os cearenses vão começar a utilizá-la. Vai demorar um pouco para os donos de carros grandes entenderem isso. Temos que começar a pensar que a rua não foi feita somente para carros particulares.”

Eu mesma contribuí para a discussão, mas sob outro viés, pois minha preocupação consiste em me expor aos assaltos da região e ficar sem meus pertences ou mesmo a vida. “Vou providenciar várias sucatas para poder usar as ciclofaixas de Fortal: bike, celular, bolsa fake de grife e por aí vai…”, escrevi fazendo graça no perfil de um amigo em uma rede social.

O debate é saudável e útil. Sei que ainda precisa de muito, que é necessário interligar as vias e dar segurança aos ciclistas para que não sejam vítimas de motoristas deseducados ou de frios assaltantes. Mas precisamos apoiar as ciclofaixas. Alguém tinha que começar. As evoluídas cidades do ‘primeiro mundo’ não ficaram prontas da noite para o dia.

Restam aos nossos principais gestores públicos municipais dar o melhor exemplo. Que tal imitarem a colega francesa Anne Hidalgo? A vice-prefeita de Paris – e candidata ao cargo de prefeita nas próximas eleições (março de 2014) – vai trabalhar diariamente de bicicleta.

Há tantas maneiras de demonstrar evolução social, não é mesmo? Vamos aproveitar, conterrâneos, para um dia podermos urrar “Vivas!” à nossa Fortaleza querida e lotadinha de ciclistas. Moi, inclusive.

Em tempo: Segundo especialistas, as ciclofaixas (ao contrário das ciclovias) são a opção mais rápida e barata, por usar basicamente tinta e tachas para separar os espaços em ruas já existentes e que serão compartilhados daí em diante.

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Para entender melhor:
Ciclovias: ruas apenas para bicicletas, onde carros não entram
Ciclofaixas : faixas demarcadas no chão, exclusivas para ciclistas

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Fontes:
IBGE
INSEE
UOL NOTÍCIAS


Rua da Escadinha, número 162

casal com o louro

Que tal um dedo de prosa?

Já faz um tempinho que tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente alguém que sabe só TU-DO sobre música e filmes antigos, carnaval e outras cositas mas que abrandam a nossa sede e fome de cultura.

Estou falando de Christiano Câmara, um apaixonado pela vida e pela onipresente Douvina, sua incrível companheira durante as últimas seis décadas. Os dois vivem arrodeados por um acervo que inclui, dentre outras raridades, alguns milhares de discos de cera e vinis, os ‘bolachões’, em um lugar repleto de história, encanto e amor.

Se me pedissem para definir o Christiano em uma só palavra, eu diria ‘jovial’. Sabe aquele espírito irrequieto e aberto dos jovens? Para honrar o ditado das exceções, contudo, evitem tentar convencê-lo a usar essas geringonças pós-modernas, como “a tal da infernet” e telefonia celular.

Ele e Douvina recebem amigos e desconhecidos, no melhor estilo ‘pode chegar!’, sem formalidades, sem agendar dia nem hora, em sua acolhedora – e sempre aberta após as 14 horas – casa, que fica ali por trás da Catedral Metropolitana de Fortaleza.

sala 1

As paredes da sala e quartos são forradas por centenas de fotos, pôsteres e quadros. Quando você pensa que não há mais espaço para afixar um minúsculo selo, eis que surgem cozinha, corredores e banheiros dispostos a acolher o recorte do jornal que publicou a última entrevista com ele, a frase de alguém famoso que ele decidiu perpetuar ou a declaração de amor eterno que escreveu para Douvina quando completaram 47 anos de casados: “Que importa que a morte (física) possa vir, se nós já tornamos imortal o nosso amor?…”.

carta

Nosso incansável colecionador dedica as madrugadas, quando a maioria dos mortais dorme, para regravar fitas de filmes antigos, que depois assiste com Douvina: “Tem coisa melhor do que cinema no conforto do nosso canto?”, ela comprova com seu eterno sorriso e bom humor, saindo apressada para passar o batom quando me vê tirando a câmera da bolsa.

Em uma das salas, vejo fotos de família. Vou correndo os olhos pelos rostos sorridentes, enquanto Douvina debulha os nomes das filhas e netos. “Esta não é a Sarinha?”, me adianto. Ela responde, entre orgulhosa e surpresa, com outra pergunta: “Você conhece a minha neta?”. Coincidências… A essa altura, já me sinto parte da família. O casal é exatamente assim, faz qualquer um se sentir como se de casa fosse.

árvore

Voltando do enorme quintal com uma impressionante árvore centenária, tomo o caminho da porta de saída, parando ainda várias vezes diante do acervo de Christiano. “Está vendo esta marquesa?”, pergunta Douvina, apontando para a bela poltrona antiga de madeira, com assento de palhinha natural. Uma das filhas resgatou a peça de um lugar que desprezou seu inestimável valor e deu-a de presente aos pais. Hoje, restaurada, transforma o estreito hall de entrada em grandioso espaço de saudação aos visitantes.

marquesa

Avesso a badalações, Christiano não se anima quando o convido a participar de um evento cultural. Prefere ficar em seu museu particular, escrevendo a história e repassando-a a quem aparecer na casa da antiga Rua da Escadinha, atual Travessa Baturité.

Parto com a promessa de retornar com mais calma, para beber o famoso cafezinho da Douvina e ouvir as interessantes histórias do casal, ao som da palração do ‘louro’ de estimação.

P.S. Para os mais jovens e menos informados, vai a preciosa dica: foi o Christiano Câmara quem idealizou a maior manifestação cultural momina da cidade, o Carnaval da Saudade, baile que acontece há 45 anos no Clube Náutico, em Fortaleza, no sábado ‘magro’.

Serviço
Museu particular do Christiano Câmara
Travessa Baturité, 162
Centro
Fortaleza (CE)
Aberto à visitação de segunda a sexta, sempre após as 14h

Imagens da autora


Letícia, a única inocente

Classificaram o episódio de “fatalidade”. Fatalidade significa, de acordo com os dicionários, “destino inevitável”.

Responsabilizaram a Prefeitura, o motorista do ônibus que atropelou (e fugiu, apavorado, depois se apresentou às autoridades), a empresa de ônibus (que continuou rodando o veículo), o transporte alternativo precário (as tais vans ou topics sem qualquer segurança para os passageiros) e a via pública sem sinalização adequada.

Querem encontrar culpados? Comecemos pelas regras (ou a ausência delas) das escolas públicas, que permitem que crianças pequenas cheguem ou saiam desacompanhadas.

É tão óbvio, mas ninguém – nem a escola, nem a comunidade – admitiu que uma criança de sete anos não deveria atravessar a rua sozinha. Não poderia ir à escola desacompanhada. Os pais ou responsáveis não deveriam permitir; A escola não deveria aceitar. Sem falar que os perigos não se restringem a atropelamentos. Existem ainda os raptos, estupros, exposição a drogas, e por aí vai…

O.k.! Vamos reivindicar mais sinalização defronte às escolas (faixas de pedestres, os desmoralizados fotossensores, quebra-molas etc.), mas que tal também desenvolver programas onde pais voluntários possam auxiliar nessas ações? Sim, primeiro, porque é compromisso da família participar da vida escolar e, depois, porque o primeiro argumento torto do Poder Público para não cumprir seu dever será o da eterna carência da mão de obra de porteiros, seguranças e guardas de trânsito…

Pobre Letícia, a menininha Pitaguary morta por atropelamento ontem (quarta-feira, 10), antevéspera do dia das crianças, em Maracanaú (região metropolitana de Fortaleza), quando tentava atravessar a rua sozinha, em frente à sua escola. Não, não foi uma fatalidade. Sua morte poderia ter sido evitada. Que não tenha sido em vão.

(Foto: TV Verdes Mares/Reprodução)


A culpa é do Deodoro

Por essas e outras, é que acho que a culpa de tudo o que está acontecendo é da turma de militares que se juntou para dar o golpe no imperador banana e botar o marechal no poder. Quem estiver de acordo, compartilhe.

Na antevéspera de mais um aniversário republicano (123 anos) e com eleições municipais a menos de um mês, cujos candidatos, por vezes, estão mais para humoristas de quinta do que para administradores e legisladores que as nossas cidades precisam, fico me perguntando o que teria acontecido ao Brasil se o império não tivesse acabado, mas, sim, evoluído.

Vou logo avisando: estou mais para anarquista do que para monarquista, embora meu sangue plebeu ferva a cada manifesto azul da realeza, principalmente a britânica.

Talvez seja exatamente nisso que as monarquias, mesmo as constitucionais, se transformaram: puro glamour, deliciosos escândalos, entretenimento para leitores das revistas de celebridades, muita aparência, decorativa mesmo, postiche, como dizem os franceses.

Se as monarquias não resolvem todos os problemas socioeconômicos, pelo menos têm o seu encanto, né? Uma noiva plebeia adentrando a nave da igreja já é uma visão maravilhosa, imagine uma princesa ou uma candidata a? Que o digam os dois bilhões de terráqueos, em abril do ano passado, que assistiram ao casamento do príncipe William, da Inglaterra, com a linda plebeia – milionária, bem entendido – Kate Middleton.

E se o Brasil ainda fosse monárquico, hein? Teríamos nossos próprios escândalos reais. Príncipes fantasiados com uniforme ‘nazi’ em festinhas temáticas, príncipes fotografados bêbados e pelados, ao lado de garotas igualmente em pelo, jogando strip poker (aquele que tira uma peça de roupa a cada derrota), mulher de príncipe fotografada de topless, pai casado de príncipe com amante casada, mãe chifruda de príncipe dando o troco no marido-príncipe adúltero, rainha ou rei mantendo as aparências para segurar as pontas de uma numerosa família (sur)real, tão barraqueira quanto as do fictício Divino carioca… Nossa! Ia ser o máximo! Os britânicos não nos fariam mais inveja. E, de quebra, ainda herdaríamos a pontualidade. Bem, talvez não alcançássemos tanta chatice.

Mas e quanto aos escândalos políticos? Seriam tão graves quanto os que enfrentamos na República? Há quem garanta que não haveria espaço para mensalões ou mensalinhos. Será? E como estaria a distribuição da riqueza produzida? Menos desigual? Sei não…

Herdeiros do regime que atravessou praticamente todo o século 19 no Brasil e colocou a ex-colônia na mídia internacional, trouxe estabilidade política, crescimento econômico e liberdade de expressão (sob o reinado do segundo Pedro) – além de ter combatido a corrupção – defendem a restauração de uma monarquia constitucional, com a figura do imperador como defensor do povo. “Se os deputados e senadores não cumprirem com as promessas de campanha, o imperador intervém, fecha o congresso e convoca novas eleições. Se começar a haver roubo, o imperador intervém e coloca o sujeito para correr”, palavras do príncipe dom Pedro de Orleans & Bragança, em entrevista ao jornal Tribuna do Norte, alguns anos atrás. “O rei, o imperador, não é partidário, ele defende a Pátria. Ele não tem nada, está ali para defender o povo, não tem interesse partidário. O interesse dele é o bem-estar social, o bem-estar do povo. Quanto custa hoje uma campanha para presidente? Quanto se gasta na televisão? Na Monarquia isso não acontecerá”, falou e disse o esperançoso e otimista monarquista.

É, parece que os republicanos fizeram tudo errado mesmo. Prometeram – e continuam prometendo – o que não podiam cumprir. Quem argumenta é a historiadora e antropóloga da USP, Lília Moritz Schwarcz, autora de ‘As Barbas do Imperador’ e ‘Retrato em Branco e Negro’, em entrevista ao Valor Econômico, em outubro de 2011. “A República prometeu inclusão social, mas expulsou a pobreza para a periferia, criou os subúrbios, as favelas”.

Não há como afirmar que o Brasil estaria melhor se, em vez de presidente eleito pelo povo, à custa de conchavos e trocas entre partidos, tivéssemos um rei guardião apartidário e um primeiro-ministro eleito por um parlamento. O fato é que este nosso modelo republicano centenário só não caducou no estilo ‘impunidade’ de fazer corrupção, quesito em que está a cada dia mais criativo.


Finalmente!!!

Não caibo em mim de tanta expectativa. Durante os últimos seis meses, curti cada palavra construída – e muitas vezes deletada -, cada capítulo feito, refeito e refeito mais uma vez, cada texto editado, com uma pena enorme de cortar algo que o meu alterego ordenava, enfim, foi um processo tão intenso que, ao concluir tudo, me dei o direito de adoecer. Foi dor em tudo que é canto, no corpo e na alma. Felizmente, hoje estou pronta para chegar ao Mercado dos Pinhões e escrever com carinho, em cada livro, uma mensagem de gratidão e afeto.


Não cruze os braços… ainda!

Hoje cedo folheei um jornal local, como faço todas as manhãs. Leitura rápida, parando em alguns trechos que me interessavam mais. Algo chamou a minha atenção, que compartilho abaixo:

“Cada vez mais você quer um dia para chamar de seu”, insinuava uma construtora.

“As mulheres dirigem mal, agem sempre por impulso, nos ensinam que são o sexo frágil e a ver o mundo apenas pelo emocional. Se você ainda acredita nisso, precisa ler tudo de outra forma”, um colégio passava o dever de casa.

“Loja X faz almoço comemorativo, com sorteio de um kit e boas conversas”; “Loja Y promove a partir das 10h, brinde de champagne e sabores do Buffet X…”; “Loja Z recebe com flores e champagne…”; “Restô X recebe com sangria e brindes…”; “Loja XX oferece programação especial: massagem, maquiagem, palestra de sedução, além do lançamento da coleção outono-inverno”, saltavam as perlages no colunismo social.

“Metas no trabalho, prova na faculdade, crianças na escola, cuidar da casa, da família, da saúde e também do carro. Você já tem muito com o que se preocupar. Essa última parte, deixa com a gente”, solidarizava-se uma revendedora de pneus.

“Hoje é dia de mulher acompanhada entrar de graça no X”, disparava a despretensiosa casa de shows.

Você já entendeu. O dia 8 de março homenageia a dondoquice, a alienação, a ‘escravidão’ consentida, o oba-oba, a discriminação sexual, a vaidade chula e por aí vai.

Que tal se, paralelo às flores, presentes e inúmeros parabéns, aproveitássemos o Dia Internacional da Mulher também para fazermos uma reflexão? Para que não tenha sido em vão a luta iniciada pelas feministas no século dezoito por mais dignidade e sociedades mais justas e igualitárias, e para que não seja banalizada e esquecida a morte das 129 operárias nova-iorquinas que foram trancadas na fábrica e queimadas pelos patrões, com a conivência da polícia, porque reivindicavam condições de trabalho mais parecidas com as dos homens e jornada diária de dez (!) horas. O calendário marcava 8 de março de 1857. O que mudou de lá para cá?

Sei, já conquistamos muitas coisas, mas ainda falta muito! Não podemos fazer de conta que não é com a gente. Para abordar apenas duas questões, precisamos de salários compatíveis (as mulheres ganham, em média, cerca de 70% do salário pago aos homens no mesmo cargo) e maior rigor e respeito para com o cumprimento de leis como a ‘Maria da Penha’ (dez mulheres são assassinadas por dia no Brasil por seus companheiros).

Concordo que é maravilhoso receber flores e elogios, mas merecemos também outro tipo de atenção e respeito de lojas, colégios, construtoras, da sociedade e da mídia em geral, da qual faço parte. Vamos descruzar os braços?


… a Câmara comeu!

Quando sei de alguém (eu, inclusive) que, vez por outra, não assume os próprios “vacilos” − atenuante da vez para “erros” −, fico imaginando de onde um cara chamado Lawrence Kohlberg tirou que a humanidade é capaz de alcançar elevados níveis de perfeição moral.

O psicólogo norte-americano, morto há quase trinta anos, definiu seis estágios para o nosso desenvolvimento moral. Desde obedecer por medo da punição ou agir corretamente somente por interesse próprio (primeiros estágios), até ter atitudes corretas por lealdade ou empatia (últimos estágios), são muitas as experiências vivenciadas da infância à maturidade, lapidando costumes e fazendo-nos refletir sobre o melhor modo de se viver em sociedade.

Independentemente de como fomos educados: “Beba e dirija”; “Atravesse no sinal vermelho”; “Ameace pedestres que ousem cruzar a faixa quando você está super atrasado”; “Assuste ciclistas intrometidos que insistem em se apossar de alguns centímetros junto ao meio-fio”; “Viaje no feriado imprensado e minta para o chefe de que está doente”; “Monte os caquinhos daquela linda peça que deslizou das suas estabanadas mãos e deixe-a ‘intacta’ no mesmo lugar”; “Não devolva o iphone novinho que encontrou no escurinho do cinema (‘achado não é roubado’)”; “Numa manobra infeliz que arremessa o retrovisor do carro estacionado vizinho ao seu, saia de fininho”; e inúmeros outros ensinamentos tais, pois não é que o cara defendia que todos nós somos capazes de transcender os valores da nossa própria formação? Em outras palavras: podemos evoluir moralmente, mesmo que tudo ao nosso redor não coopere para isso. Isso me deixa, de certa forma, aliviada: ainda há esperança para nós, brasileiros, e para a humanidade em geral.

A maioria de nós, segundo Kohlberg, permanece em estágio intermediário. O que nos mantêm na linha são as leis e regras sociais. A punição aos infratores é essencial para a manutenção da ordem. De forma simplista, o raciocínio para a prática da impunidade é mais ou menos o seguinte: “Se alguém errou e não foi punido, então eu também posso e vou errar”. Não é o ideal, mas já está de bom tamanho, porque atingir o estágio moral mais elevado é privilégio de poucos. Baseado em princípios éticos universais (igualdade, respeito e capacidade de se imaginar no lugar do outro), nessa etapa os indivíduos agem corretamente pelo bem da humanidade, e não por obediência, recompensas ou medo do castigo.

Quando presencio fatos como o da recente absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz, no processo de cassação na Câmara (flagrada, em vídeo, recebendo grana ilícita, em 2006, quando não exercia mandato), percebo o que Kohlberg quis dizer com quebrar regras em nome do bem coletivo. Cumpriu-se a lei, é verdade, mas perdemos a oportunidade de ver elevada a ética da Casa que representa a todos nós.

Moral da história: o caixa 2 que estava aqui…


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