Uma noite ela sonhou que era famosa.
Acordou, correu até o espelho para checar as longas mechas californianas, o corpo sarado, o sorriso de porcelana, bocão preenchido e outros sinais influenciadores.
Chamou uma assessoria, passou o dia entre fotos, produções, postagens, uma fugida para o treino crossfit, muita água e alguns rasgos de alface.
Ao final do dia, eventos, mais fotos, selfies aos montes, um gole de espumante aqui, outro gim tônica ali, mais um vermute “que agora é moda na Europa mediterânea”, ouviu de alguém enquanto rolava mais uma selfie em grupo.
(Des) Equilibrada sobre salto doze, uma câimbra na panturrilha contorceu seu sorriso fabricado e empurrou-a para um assento num canto qualquer.
Não se passara nem um dia e ela já questionava a condição de celebridade. Estava ansiosa para voltar a dormir e se livrar daquele pesadelo.
Na manhã seguinte, por via das dúvidas, ignorou o espelho, pegou o busão e foi faxinar aliviada.