Chamar alguém de imaturo é como uma ofensa inaceitável, mesmo quando o acusado tem vinte anos ou menos; que nem um herege que se recusa a “vestir a carapuça”, para evocar a expressão eclesiástica medieval que se perpetua aos dias atuais.
Estava relembrando as inúmeras vezes em que me fiei ter atingido a sensatez e o equilíbrio que caracterizam a tal maturidade.
No primeiro beijo, me considerei a própria experiência. A primeira decepção amorosa trouxe a convicção de que eu me tornara precocemente madura. O ingresso na universidade veio escoltado da certeza de vivência máxima. A graduação, a primeira grana com o meu trabalho, a gravidez dos meus filhos, as amizades desfeitas por incompatibilidade ou desamor, o falecimento do meu pai… Um rol infinito de felicidades e tristezas da fase mais jovem.
Sempre que escalava um novo degrau da maturidade, eu acreditava que seria o último, que finalmente havia alcançado o real patamar da plenitude.
Dizem que a maturidade se instala [sem quaisquer garantias, descobri aos poucos] à medida que você desconstrói e humaniza seus heróis e heroínas – pais, amigos, companheiros, mestres –, e continua a respeitá-los e admirá-los da mesma forma.
A verdade é que a maturidade está a toda hora se evadindo. Além de chegar sem avisar, parte furtiva, sem aceno ou abraço.
De repente, no esplendor da terceira idade, a gente se pega, por exemplo, julgando uma pessoa querida que não atendeu às nossas exigentes expectativas. Pronto, a danada da maturidade escapuliu de novo, levando consigo tudo aquilo que incorporamos com ela, pois nunca anda sozinha, se faz acompanhar da tolerância, resiliência, compaixão e solidariedade.
Da próxima vez que alguém lhe surpreender com uma falha ou uma decepção, reflita antes de voltar à estaca zero do crescimento humano.
Proponho, portanto, vigília permanente às constantes fugas da tal maturidade. A gente se encontra na travessia. Boa sorte pra nós.
* Publicado originalmente no Blog Lugar ArteVistas, onde escrevo mensalmente às primeiras sextas-feiras.
2 outubro, 2021 at 1:39 pm
A Vida é como uma roda gigante uma hora no topo minutos depois na base, nenhum lugar é melhor que outro se entendemos que isso faz parte do seu movimento natural . A maturidade para o que já conhecemos é compreensível significa que aprendemos, difícil é ter maturidade para o desconhecido para o que nos tira do eixo…sigamos em busca de tudo que nos traz plenitude para SENTIR e realmente VIVER esse mundo.
2 outubro, 2021 at 3:21 pm
Adorei a metáfora da roda gigante. Nossos pensamentos dialogam. Sigamos! 🥰