“Carpe diem”

Dia desses, ao rever “Sociedade dos poetas mortos”, renovei meu encantamento pela célebre passagem em que o professor John Keating diz a seus jovens alunos: “Carpe diem! Aproveitem o dia, garotos. Façam suas vidas serem extraordinárias”.

Desde a primeira vez que assisti o filme de Peter Weir – há três décadas –, caí de amores pelo professor fictício de literatura e o antigo conceito latino. Que jovem não gostaria de ter um mestre que o acolhesse em suas angústias e inseguranças, além de incentivá-lo a fazer as próprias escolhas? Lembro que saí do cinema abraçadinha ao Sr. Keating.

De lá pra cá, muitas mudanças. Em mim, no mundo e na prática inadequada da tal concepção. “Colha o dia”; “curta o dia”; “aproveite o momento” transformou-se em “viva impulsivamente”; “consuma tudo o que puder de uma só vez”. O resultado são adultos imaturos, que não sabem lidar com frustrações, numa busca incessante por prazeres que duram o tempo de um suspiro.

Então, qual a definição correta de “aproveitar o momento”? Para alguns poucos, permanece a ideia anterior à era cristã, do romano Horácio em seu poema de louvor à vida: aproveitar o que há de bom em cada instante, devido a incerteza do amanhã. Mas de que forma?

“Aproveitar o dia”, gente querida, é fazer coisas úteis para a humanidade. Nada com “se jogar” como se não houvesse amanhã. O nome disso é “imprudência” e “imaturidade”. É necessário, sim, dar o passo seguinte, simplesmente porque o futuro é logo ali e exige de nós sensatez e responsabilidade.

Mesmo à volta com a terrível pandemia da Covid-19, agravada pelo descaso do poder público central, torço pelo resgate de emoções singelas que dispensem dinheiro, como comover-se com o brilho da lua cheia, o horizonte colorido no pôr do sol, o canto dos pássaros, uma palavra de conforto, o sofrimento do outro, o sorriso de uma criança ou as brincadeiras de um bichinho de estimação, desde que respaldadas pelo essencial a uma existência digna.

Fazer da vida algo extraordinário é um ato coletivo de resistência. Em vez de esbanjarmos o agora com futilidades e atitudes egocêntricas, usemos a nossa potência para o crescimento e satisfação de todos e todas. Isso é “carpe diem”.

(*) Publicado originalmente no blog “Lugar Artevistas”, onde escrevo mensalmente, às primeiras sextas-feiras.

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

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