Tempo certo para tudo*  

“Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”

(Eclesiastes 3)

 

Três reflexões sobre o tempo aparecem em três diferentes textos desta edição da Revista SAL. Trata-se de duas crônicas – de Eliana David e de Izabel Machado – e um meditativo ensaio literário de Regina Fiúza.

As três integrantes da Sociedade Amigas do Livro (SAL) abordam, sob diferentes perspectivas, a importância da temática que ocupa a mente de filósofos e pensadores de todas as eras, desde Agostinho de Hipona (354-430), conhecido mundialmente como Santo Agostinho, conforme declarou na obra autobiográfica Confissões: “Se ninguém me faz a pergunta ‘O que é o tempo?’, eu sei a resposta; mas, no momento em que tento explicar, deixo de sabê-la”.

A instigante reflexão filosófica agostiniana sobre a função do tempo pode ser aplicada a outros temas tão comuns quanto essenciais, como a arte em suas diversas expressões.

Qual o papel, por exemplo, da literatura em nossa vida? Há espaço para os livros em nosso atribulado cotidiano? De que forma os livros transformam a contemporaneidade? Como justificar o crescente desinteresse público pelos livros [segundo estudos], quando as obras literárias seguem proporcionando alegria, entretenimento e conhecimento a milhares, ajudando inclusive na superação de tristezas e perdas?

Faz-se necessário lembrar que há tempo certo para tudo, de acordo com a citação inicial desta peça editorial, um trecho do livro bíblico Eclesiastes.

Tempo de amar e doar. O amor à literatura é o principal motor da Sociedade Amigas do Livro, entidade fundada há 57 anos, em Fortaleza, com a missão de democratizar o acesso à leitura através da formação e doação de bibliotecas às mais distantes e carentes comunidades do nosso Estado.

Tempo de reconhecer. A sexta edição da Revista SAL – veículo que registra o trabalho sociocultural das nossas associadas – reitera a solidez do projeto literário idealizado por Beatriz Alcântara que enriquece a edição com duas tocantes poesias, ao lado das companheiras Giselda Medeiros, Lourdinha Leite Barbosa – que nos representa a todas na poesia Canto de amor à Suzana, declaração fraterna à querida Suzana Ribeiro, fundadora e decana da SAL –, Révia Herculano e Neide Azevedo, esta última vencedora do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura 2017, na categoria.

Tempo de homenagear. O perfil biográfico da inesquecível poeta Rita de Cássia Araújo, falecida em 5 de junho do corrente ano, abre a edição 2018/2020 da Revista SAL, onde Celma Prata rende um tributo à querida companheira do livro.

Tempo de deleitar-se. Côca Torquato, artista plástica dotada de profunda sensibilidade e reconhecido talento, criou as belas e exclusivas ilustrações de capa e miolo desta edição. É também da sua autoria um dos encartes destacáveis, onde manifesta orgulhosamente suas raízes nordestinas; o segundo encarte é da igualmente talentosa Terry Araújo, ceramista que se apresenta aqui com nova expressão artística: o bordado literário.

Tempo de recordar e aplaudir. Edyr Rolim participa com a indicação de comovente poesia da saudosa Nadir Papi de Saboya. Outras queridas companheiras nos brindam com brilhantes textos acadêmicos e literários: Angela Gutiérrez, Dina Avesque e Nadja Moreira. Juntem-se o palpitante conto de Thereza Leite e as interessantes crônicas de Bernadete Bezerra, Cybele Pontes, Ester Weyne e Marilena Campos, além do expressivo ensaio de Vera Moraes sobre o romance Paisagem com dromedário, da escritora Carola Saavedra.

A advogada Carolina Torquato nos honra com um reflexivo artigo: Seremos uma antítese de nós mesmos?

Tempo de sonhar com os novos tempos que virão. Que venha uma infinidade de livros que nos permita sonhar com um mundo onde todos são livres e respeitados. Que o tempo de guerra e ódio dê lugar ao tempo de amor e paz. Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

 

*Texto publicado originalmente no Editorial da Revista SAL, edição No 6, dezembro/2018.

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

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