Pisar no solo do vulcão ativo mais alto da Europa foi a parte mais incrível da aventura de comemorar quarenta anos de casados
“Vamos conhecer a Sicília?”. Meu marido vinha há tempos propondo uma visita à ilha italiana, a maior do Mar Mediterrâneo.
Nos últimos 25 anos, fomos algumas vezes à Itália, sempre para curtíssimas temporadas, o que nos obrigava a eleger apenas uma região por vez. Assim, estivemos no Lácio, Vêneto, Toscana, Ligúria e Piemonte. A Sicília sempre ficava para a viagem seguinte.
Em todas elas, bebidas e comidas lideraram nossa curiosidade, por considerarmos ser essa a forma mais prazerosa de conhecer a cultura e hábitos locais. Ele, mais interessado nos ingredientes e modo de preparo dos pratos principais e harmonizações; eu, focada nos doces, sorvetes e sobremesas. Em nossos roteiros, portanto, nunca faltam passeios por mercados e feiras-livres e muita conversa com produtores. Adianto logo que não somos especialistas, longe disso, mas apreciamos vinhos e novos sabores.
Dizem que aromas e sabores recuperam memórias que se supunham esquecidas. E deve ser mesmo verdade. Em todas as nossas viagens, há sempre uma comida ou bebida que nos marcou.
Da nossa estreia em terras italianas, em 1992, pelo Lácio, lembramos o personalíssimo Spaghetti alla carbonara, entre copos de vinho branco Frascati, feito com uvas Malvasia.
Da viagem seguinte, para a região do Vêneto, guardamos os sabores divinos do Tiramissu, do risoto com pancetta e ervilha, e do fígado acebolado, com taças transbordantes de Valpolicella, uva Corvina.
Permanecem em nossa lembrança o gosto dos azeites da Toscana, onde estivemos em 2004, além dos queijos de ovelha e da tradicional Bisteca fiorentina – um exclusivo corte da costela de boi da raça Chianina que agrega três carnes: filé, contrafilé e alcatra –, arrematados com vinhos Brunello e Chianti, ambos de uvas Sangiovese.
Sempre que sinto cheiro de manjericão, me vem à mente o prato que comemos, em 2013, na Ligúria, região produtora da erva. O pouco tempo passado em Savona – parte do nosso roteiro marítimo pelo Mediterrâneo – foi suficiente para comprovarmos o motivo da região ser conhecida como “terra do pesto”. Todos os cardápios trazem Trofie al Pesto, uma massa de formato pequeno, fininho e torcido, servida ao molho que tem por base o manjericão. Nas taças, um bom vinho Cinque Terre, elaborado a partir de castas como a Vermentino.
E foi também entre produtores locais e expositores da Feira Internacional da Trufa Branca de Alba, no Piemonte, que nos deliciamos, há um ano, com raspas da caríssima trufa branca – de aroma inigualável – sobre singelos ovos fritos ou talharim fresco, saboreados com vinhos Barolo e Barbaresco, da uva Nebiollo. Em Alba, viramos “caçadores” de trufas, guiados por um Trifulau, especialista que conduz cães farejadores pelos campos úmidos em busca do valioso fungo.
Finalmente, neste novembro, o nosso sonho Siciliano materializou-se em fartura de ricotas, arancini, frutos do mar, berinjelas fritas, além de doces maravilhosos, como o cannoli, a cassata e a granita com brioche até no café da manhã.
Graças à diversidade do solo vulcânico da ilha, muita pesquisa e tecnologia de ponta a serviço de produtores conscientes, os vinhos da Sicília têm conquistado mercado e muitos apreciadores. Degustamos taças e mais taças do Etna Bianco, composto pelas uvas Carricante e Catarratto, e do tinto Nero D´Avola, da casta Nerello Mascalese. O vinho fortificado Marsala estava presente ao final das refeições.
Testemunha soberana de toda essa orgia enogastronômica, o Etna nos fisgou desde a primeira espiada através da janelinha do avião, quando sobrevoávamos suas impressionantes crateras para o pouso no aeroporto de Catânia, de onde partimos imediatamente de carro para conhecer a esplêndida costa leste siciliana. Programamos o gigante de 3.330 metros de altitude para o último dia de nossa viagem.
De volta à Catânia, após cinco dias de andanças e curtições, estávamos prontos para a façanha que coroaria a comemoração dos nossos quarenta anos juntos.
Foi quando os planos começaram a ruir. Se fôssemos supersticiosos, teríamos desistido. A agência cancelou, de última hora, a visita guiada, com a justificativa de que o guia sofrera, lamentavelmente, um acidente e não havia tempo para substituí-lo. O clima não estava favorável, a previsão era de chuva e muitas nuvens. Para completar, era o dia da Festa dei Morti.
Persistentes, soubemos pela gentil recepcionista do nosso hotel que havia um transporte diário para o Etna, saindo às 11h30 da Piazza Duomo – a dois passos dali – e retornando às 18h. Teriam ainda lugares disponíveis? Corremos para lá e nos deparamos com uma jardineira. “Será uma boa ideia?”, meu companheiro perguntou. Compramos os últimos dois lugares por setenta euros. A aventura estava apenas começando.
O trajeto sinuoso e íngreme de uma hora e meia até a primeira etapa – as chamadas Crateras Silvestri, a 1.900 metros de altitude – antecipava as intensas emoções que nos aguardavam. Mas nada é comparável a caminhar naquela imensidão silenciosa de crateras que mais parecem “uma paisagem lunar”, como bem definiu Patrícia Kalil, do blog Descobrindo a Sicília.
Valeu cada minuto de frio – com temperaturas próximas a zero grau –, os ventos fortes e os solados pretos – antes brancos – dos tênis. Brindamos no Refúgio Sapienza – o pequeno complexo turístico com restaurante e lojinhas – com taças de vinho rosso do Etna. No retorno, sol se pondo, “ônibus” com cortinas de plástico abaixadas para nos proteger do vento gelado, tivemos a certeza de que tínhamos vivido um dos dias mais incríveis da nossa duradoura união.
10 novembro, 2017 at 7:57 pm
Que legal ler sobre suas andanças!!
10 novembro, 2017 at 8:03 pm
Brigada, amiga! 😘
10 novembro, 2017 at 9:06 pm
Da maneira que você amiga descreveu, eu me senti viajando com o casal maravilhoso que são ! Saudade e inveja no bom sentido. Beijos e volte logo ….
11 novembro, 2017 at 6:25 am
E vocês estavam mesmo com a gente! 😀😘
10 novembro, 2017 at 11:12 pm
Que belo texto, amiga !!!
Parabéns pelos 40 !!!
11 novembro, 2017 at 6:24 am
Obrigada, Sílvia querida! 😘
11 novembro, 2017 at 1:24 am
Que espetáculo de relato! Revivi alguns momentos passados na Itália e reavivei a vontade de conhecer a Sicília! Parabéns pelo texto e pelo casamento feliz! Bj., prima!
11 novembro, 2017 at 6:23 am
Obrigada, querida prima! 😘
11 novembro, 2017 at 5:59 am
Amiga querida, me transportei para a Itália, visitando e degustando as maravilhas dessas regiões, tão ricas, tão distintas então próprias . Sua escrita sempre me encanta pela clareza, e envolvimento . Com certeza preciso ir a Sicília novamente kkkkkkk parabéns!
11 novembro, 2017 at 6:23 am
O rigad
Obrigada, querida amiga! 😘
11 novembro, 2017 at 10:12 am
Parabéns pela deliciosa crônica. Como lhe falei uma vez sempre lembro do meu amigo Milton Dias a maneira como escreve. Carinhosamente amiga Branca
11 novembro, 2017 at 10:49 am
Obrigada, querida amiga. Honrada com a comparação com o brilhante e saudoso MD, embora eu atribua suas generosas palavras ao nosso afeto. Saudade de vocês! Bjos ❤️
13 novembro, 2017 at 2:10 am
Que bacana a aventura Celma. Saudoso abraço a toda a família !
13 novembro, 2017 at 3:00 am
Obrigada, meu querido! Saudades também de vocês! 😘
13 novembro, 2017 at 9:17 pm
Comemoração perfeita em um lugar fantástico !!!
14 novembro, 2017 at 3:26 am
Oi, amiga querida!!! Morrendo de saudade. Beijos na galerinha e galerona B. 😘❤️
14 novembro, 2017 at 6:29 pm
Adorei a crônica e pensei que os “40” anunciados fossem de idade. Captei os sentimentos vividos e recolho as informações como referência de: comer bem em harmonia com a especialidade do vinho, amar e viver intensamente. Parabéns!!!
Com o afeto da
Ada
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14 novembro, 2017 at 6:44 pm
Que alegria sua visita neste espaço, querida Ada! Obrigada! 😘
15 novembro, 2017 at 9:43 am
Emocionante!!!💗
15 novembro, 2017 at 3:10 pm
Muito, amiga querida! Saudades, Bjos
26 dezembro, 2017 at 7:04 pm
lindo este casal merece cada momento e felicidade
26 dezembro, 2017 at 9:27 pm
Obrigada!!! 😀