Feira ao sul do Tejo

Um dos principais eventos agropecuários de Portugal atrai negócios que movimentam a economia da rica região do Alentejo

(Enviada especial a Estremoz, Portugal)


(Foto 1)

Uma canção romântica embalava os visitantes que chegavam para o terceiro dia da Fiape 2017, na cidade de Estremoz, sudeste de Portugal.

Apuro o ouvido, algo me soa familiar: o sotaque do cantor. “Meu ar, meu chão é você. Mesmo quando fecho os olhos, posso te ver…”. O que leva uma feira rural, ao sul do Tejo, a incluir brasileiros na playlist? Arrisco perguntar a uma local se, por acaso, saberia quem estava cantando. A rapariga me olha com ar de espanto, balançando negativamente a cabeça. Ora, se você, que é brasileira, não sabe, que direi eu!, seu semblante parecia falar.

Utilizo o potente wifi do parque de exposições e faço um google com os versos da tal balada. Milhares de resultados expõem “Sem ar”, do cantor carioca D’Black, considerado um dos fenômenos de 2008 na internet, por ter alcançado rapidamente mais de quarenta milhões de audições, segundo a gravadora do artista.

Chega de digressões. Hora de trabalhar. Este é o terceiro ano em que a equipe do AgroValor visita a Fiape – Feira Internacional Agropecuária de Estremoz, apontada como uma das mais importantes iniciativas do setor, realizada de 27 de abril a 1º de maio.

Em sua 31ª edição, a Fiape apresenta números que impressionam. Conforme seus organizadores, mais de 60 mil visitantes convergiram ao Parque de Feiras e Exposições Engenheiro André de Brito Tavares, nos cinco dias do evento, para conferir os 450 expositores, nas áreas de pecuária, maquinário agrícola, comércio e indústria, artesanato, produtos regionais e comercialização de automóveis. Uma vasta programação cultural oferecia ainda palestras e espetáculos musicais.

Um dos certames nacionais da pecuária mais aguardados era o de ovinos Île-de-France, que teve início às 10h30, do dia 29 (sábado). José Romão (da Romão & Folque), criador e diretor técnico da raça, destacou a importância do concurso para o aperfeiçoamento da genética e reconheceu a evolução da feira nos últimos anos. “A Fiape melhorou muito depois que veio para este recinto”, anuncia Romão, referindo-se à excelente estrutura do parque de exposições de Estremoz. O especialista adianta ao AgroValor que confirmou convite para participar da Expointer, em Esteio (RS), em agosto próximo.


(FOTO 2)

Visitantes de várias regiões de Portugal, além de outros provenientes da Espanha e Brasil, vieram apreciar os rebanhos, o artesanato, os vinhos, o azeite e a gastronomia. Um grupo de turistas brasileiros, que visitava Estremoz pela primeira vez, aproveitou para conhecer a feira. Ficaram surpresos com o vigor do evento realizado em uma cidade pequena para os padrões brasileiros, com população inferior a 15 mil habitantes, mas com forte potencial de negócios. Izabel e Osler Machado, empresários de Fortaleza, provaram os deliciosos enchidos, o presunto Pata Negra, os pães, os vinhos, a enorme variedade de frutos secos do Alentejo e só tinham elogios. “Achei bastante interessante, pois dá oportunidade também aos pequenos produtores; muito organizado; o segmento de ovinos é muito rico. Tive a chance de conhecer um Agronegócio desenvolvido por outro país”, afirma Machado.

(FOTO 3)

O empresário brasileiro Antônio Bitar, da Fazenda Libanus, em Paracuru, Ceará, produtora de ovinos, cachaças artesanais e ovos de galinha caipira, frequenta a Fiape desde 2007. “Cresceu muito em estrutura, desde a primeira vez em que aqui estive, há dez anos. A manutenção da qualidade dos produtos é outro fator a destacar”, atesta Bitar, com satisfação, sobre a evolução do evento.

(FOTO 4)

Realizada paralelamente à Fiape, a 35ª Feira de Artesanato de Estremoz reafirmou sua potencialidade, com 120 expositores nos mais variados estilos e materiais. Isabel e José Diamantino – ele, de tradicional família no ramo da ouriversaria –, consideram o evento um dos mais organizados do país, com bom número de visitantes e igual nível de vendas. Essa é a terceira vez que o casal expõe no Alentejo. “Somos ricos de autoestrada, temos prazer em conhecer as terras e a gastronomia de outras regiões”, declara Diamantino, que viajou de carro com a mulher por três horas, desde Gondomar – no distrito de Porto, norte do país, trazendo belas peças para apresentar na feira.

(FOTO 5)

As inesperadas baixas temperaturas para a época, cerca de 11º C, com algumas pancadas de chuva e ventanias, surpreenderam alguns expositores. A principal queixa referia-se às condições desfavoráveis de tempo para os setores cujos estandes fixaram-se ao ar-livre.“Participamos desta feira há doze anos. Neste ano, o clima não ajudou, vamos esperar que melhore até amanhã [domingo]”, lamentava Maria João, funcionária da Carola & Borralho, produtora de artigos em pele de ovelha, como calçados, vestuário, acessórios e decoração, situada em Monforte, no Alto Alentejo.


(FOTO 6)

Além de mostras e atividades diurnas, os shows musicais da Fiape movimentaram as noites da pequenina Estremoz, que teve sua população multiplicada no final de semana prolongado, devido ao feriado do Dia do Trabalhador (1º de maio) ter caído em uma segunda-feira. Bandas, cantores e DJ’s dividiram os palcos, com ritmos que iam do pop rock a hip hop e rap, além de música eletrônica, grupos folclóricos e, claro, o belo fado.

Cruzo novamente com o grupo de turistas brasileiros. Estavam de saída para a Quinta Monte da Azinheira, na vizinha Arcos, onde almoçariam com a família Cabaço, fabricante dos estrelados vinhos Monte dos Cabaços. Seriam recebidos por Margarida e Joaquim Cabaço, ela a chef do tradicional Restaurante São Rosas, que funcionou até dezembro último no interior das muralhas do centro histórico, ao lado da Pousada Castelo de Estremoz. Pelo grau de ansiedade do grupo, podia-se antever o banquete alentejano harmonizado com vinhos Monte dos Cabaços que deve ter se estendido até a noite.

Recomeçam as divagações. Difícil concentrar-se nesse ambiente de cheiros e sabores inigualáveis. Hora de provar as delícias do Alentejo. Quem já saboreou uma Bochecha de Porco Preto assada ao forno com migas de brócolis, acompanhado de uma taça de Margarida Alicante Bouschet 2010, pode me entender perfeitamente.

Serviço

31ª Fiape e 35ª Feira de Artesanato

Anualmente, no final de abril (Em 2017: 27 abril a 1 de maio)

Parque de Feiras e Exposições Eng. André de Brito Tavares

Estremoz – Portugal

Organizadas pela Câmara Municipal de Estremoz, em parceria com a Acore – Associação de Criadores de Ovinos da Região de Estremoz, com o apoio de diversas entidades.

http://www.cm-estremoz.pt/evento/fiape

Onde se hospedar

Pousada Castelo de Estremoz

Largo Dom Diniz

Estremoz

http://www.pousadas.pt/pt/hotel/pousada-estremoz

Onde comer

Mercearia Gadanha

Largo Dragões de Olivença, 84-A

Estremoz

Fecha segunda-feira

http://www.merceariagadanha.pt

Vinícola a visitar

Vinhos Monte dos Cabaços

Monte da Azinheira

Arcos – Estremoz

http://www.montedoscabacos.com


Crédito Fotos: AgroValor

(FOTO 1) Estremoz. Entrada principal do Parque de Exposições, onde se realizaram a 31ª Fiape e a 35ª Feira de Artesanato

(FOTO 2) Especialista. José Romão, diretor técnico da Île-de-France, em ação durante o concurso da raça

(FOTO 3) Turismo rural. Izabel e Osler Machado, de Fortaleza, em passeio pela região do Alentejo

(FOTO 4) Assiduidade. Antônio Bitar, empresário brasileiro do Agronegócio, conferindo a Fiape pela terceira vez

(FOTO 5) Aventura. Casal de ourives, Isabel e José Diamantino, atravessaram o país para expor em Estremoz

(FOTO 6) Frio. Maria João, expositora de artesanato, acredita que o clima diminuiu o fluxo de visitantes

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

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