Sentimento para se cultivar sempre

Esta é uma homenagem singela a todas as pessoas que consideram a amizade uma das coisas mais importantes da vida e, em especial, ao grupo “Amigas para Sempre”, que pratica há décadas uma bela e sincera convivência, com o qual tenho aprendido muito e do qual tenho a honra de fazer parte há alguns anos. Andréa, Bel, Beta, Branca, Clícia, Gina, Inês, Márcia, Nádya, Rose, Sílvia, Valéria e Venúsia, obrigada por serem como são. Beijo carinhoso para todas.

“CULTIVE A AMIZADE”. Assim aconselhava um dos tópicos de um artigo que li noutro dia em respeitável semanário nacional. A temática abordava os principais recursos para proteger o cérebro humano contra o processo natural de envelhecimento. Nenhuma novidade entre as outras sugestões: comer alimentos naturais, evitar o tabagismo, praticar exercícios físicos, dormir bem e aprender coisas novas. Mas foi o item sobre a amizade que me fez refletir a vida.

Parece tarefa simples, uma vez que passamos toda a nossa existência nos relacionando. Família, escolinha, colégios, cursos superiores ou profissionalizantes, trabalho, academia, clube, grupo religioso, voluntário… Quanto mais laços sociais, mais chances sua mente-atleta terá de ultrapassar todos os obstáculos que surgirão ao longo do percurso, garante o artigo baseado em recentes pesquisas científicas.

O problema começa quando a sua capacidade de socialização fica comprometida. São tantos os impedimentos que muitos desistem em determinado estágio da vida. Não é todo dia que se está disposto a encarar pessoas mal-humoradas, rancorosas, ingratas, hostis e arrogantes. E haja atividades solitárias, algumas consideradas verdadeiros mitos até bem pouco tempo atrás. Jogos de palavras-cruzadas produzem menos efeito na mente do que um simples bate-papo entre amigos, por exemplo. A leitura também perde feio para o convívio social. Ações cognitivas isoladas não previnem a demência, afirmam os especialistas. Elas devem vir conectadas a outros elementos. Sudoku, sim, mas durante a pausa da academia ou após um encontro festivo.

Sorte grande seria só conviver com pessoas bem-humoradas, solidárias, conciliadoras e atenciosas. Mas enquanto elas não nascem, que tal valorizar cada sorriso ou palavra de incentivo e cada abraço nos momentos de alegria ou dor? São pequeninos gestos que podem neutralizar os efeitos indesejados daqueles temperamentos de difícil convivência.

E não pense que o convívio precisa ser com velhos amigos de infância. Amizade é bom de qualquer jeito. Antiga, nova, íntima, superficial. Mas uma coisa é indiscutível: é importante investir na relação. Seja recente ou de uma vida inteira, a amizade precisa ser cuidada, mimada, como se fosse algo frágil e efêmero. Alguém pode argumentar: “Mas amizades verdadeiras se sustentam sob quaisquer circunstâncias!”. Concordo, mas quando falo em “fazer amigos”, não me atenho àqueles relacionamentos raros, à prova de discórdias, inveja, fofocas ou falsidades, ou seja, vacinados contra certas condições inerentes ao ser humano. Na verdade, refiro-me a sentimentos menos românticos, mais realistas, do cotidiano mesmo, sem muita entrega, mas longe de ser indiferente ou apático.

Pode ser complicado, admito, mas pequenas doses de humildade, paciência e tolerância não fazem mal a ninguém. Deixar de responder a uma provocação gratuita pode ser um bom início. Controlar-se para não se vangloriar em demasia, mesmo quando o seu filho – ou neto – venceu o concorrido concurso público ou o vestibular da melhor universidade do país, é outra atitude igualmente bem-vinda. Aprender a elogiar, sem deixar de ser verdadeiro, claro! Se observarmos atentamente, sempre haverá algo a ser enaltecido no outro. Saber ouvir, olhar no olho, sempre. E não falar mal de ninguém, nunca!

São essas pequenas regras sociais, conhecidas por muitos e exercitadas por poucos, que contribuem para uma convivência harmoniosa. Sem elas, não dá para “cultivar amigos”. Pode ser que a comprovação científica dos seus benefícios para a memória nos motive a praticá-las com mais frequência.

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

18 respostas para “Sentimento para se cultivar sempre

  • Silvia

    Celma querida,
    Elogiável a sua sensibilidade com relação ao sentimento da amizade.
    Na minha escala de valores, cultivar uma amizade está lá no alto.
    Tenho orgulho de cultivar uma amizade que tem a minha idade, ou seja,
    nascemos com uma diferença de 25 dias, e somos amigas até hoje.
    Agora digo como a Martha Medeiros em um dos seus textos ” E qdo ouço pessoas dizendo q amigo, mas amigo meeeesmo, a gente só tem dois ou tres, empino o peito e fico até meio besta de tanto orgulho: eu tenho mto mais do q dois ou tres. São uma cambada”.
    Parabéns, AMIGA, pelo belo texto !

  • Osler Machado

    Maravilha sua sutileza de colocar os nomes das amigas em ordem alfabética!!!

  • Adelia Jorge

    Amiga, não faço parte deste grupo, mas, felizmente me encontro no rol de suas amizades. Parabéns pelo tocante artigo!
    Beijo grande,
    Adélia

  • Frédérique

    Oi amiga querida, amei os seus pensamientos. Apesar da distancia, vc faz parte do laço das amigas;
    Bjo grande

  • Fernando Santos

    Querida Amiga,
    Como sempre chamando a atenção para as coisas importantes da vida! Na verdade reproduzindo apenas a atitude que sempre lhe reconhecemos, cultivando a amizade mesmo com aqueles, como nós, que estamos longe e não podemos usufruir da sua presença com a frequência que gostaríamos. Mas não é por isso, que a sua amizade não está sempre presente e nos inspira na nossa realidade. Muito obrigado!
    Fernando Santos

  • Izabel machado

    Amiga parabéns pelo texto e reflexão!!!! Palavras cheias de sentido!!!! Vamos sempre HALINAR nossas amizades!!!! Mesmo que as vezes elas nos pareçam um pouco enfadonhas ……pois amanhã pideremos ser as enfadonhas kkkk
    Acho difícil !!!!!!

  • Maria Emilia

    Prima, lindo texto, e muito verdadeiro. A amizade é o principal sentimento que se deve cultivar. Mesmo o casamento não sobrevive sem amizade. Parabéns, querida, e obrigada pelas reflexões!

  • asly@terra.com.br

    Celma,;:”Aprender a elogiar, sem deixar de ser verdadeiro,” mesmo que minta muito nos elogios lhe garanto que você é muito mais. Beijo Lucia Maria

  • Karisia Pontes

    Querida Celma, escrito em poucas palavras, este seu artigo aborda um dos temas mais caros ao ser humano e vc conseguiu traduzir muito bem o que isso representa. Sorte sua ter essa sensibilidade. Bjs,

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