Letícia, a única inocente

Classificaram o episódio de “fatalidade”. Fatalidade significa, de acordo com os dicionários, “destino inevitável”.

Responsabilizaram a Prefeitura, o motorista do ônibus que atropelou (e fugiu, apavorado, depois se apresentou às autoridades), a empresa de ônibus (que continuou rodando o veículo), o transporte alternativo precário (as tais vans ou topics sem qualquer segurança para os passageiros) e a via pública sem sinalização adequada.

Querem encontrar culpados? Comecemos pelas regras (ou a ausência delas) das escolas públicas, que permitem que crianças pequenas cheguem ou saiam desacompanhadas.

É tão óbvio, mas ninguém – nem a escola, nem a comunidade – admitiu que uma criança de sete anos não deveria atravessar a rua sozinha. Não poderia ir à escola desacompanhada. Os pais ou responsáveis não deveriam permitir; A escola não deveria aceitar. Sem falar que os perigos não se restringem a atropelamentos. Existem ainda os raptos, estupros, exposição a drogas, e por aí vai…

O.k.! Vamos reivindicar mais sinalização defronte às escolas (faixas de pedestres, os desmoralizados fotossensores, quebra-molas etc.), mas que tal também desenvolver programas onde pais voluntários possam auxiliar nessas ações? Sim, primeiro, porque é compromisso da família participar da vida escolar e, depois, porque o primeiro argumento torto do Poder Público para não cumprir seu dever será o da eterna carência da mão de obra de porteiros, seguranças e guardas de trânsito…

Pobre Letícia, a menininha Pitaguary morta por atropelamento ontem (quarta-feira, 10), antevéspera do dia das crianças, em Maracanaú (região metropolitana de Fortaleza), quando tentava atravessar a rua sozinha, em frente à sua escola. Não, não foi uma fatalidade. Sua morte poderia ter sido evitada. Que não tenha sido em vão.

(Foto: TV Verdes Mares/Reprodução)

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

2 respostas para “Letícia, a única inocente

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

365 Days of Lebanon

one post a day of Lebanon through my eyes

Antimidia Blog

Textos sem sentido, para leituras sem atenção, direcionados às pessoas sem nada para fazer.

Resenha do Dexter

Blog sobre tudo e nada, ou seja, sobre o que eu escrever (E resenhas de Livros)

Admirável Leitura

Ler torna a vida bela

Reverso Literal

Blog, poesia, prosa, contos, escritos, literatura, arte, imaginação, livros

Lugar ArteVistas

#arteondeestiver

Farol Abandonado

poesia profana, solitária e melancólica

Diferentes Tons

Artes, Literatura, Moda

RePensandoBem

Roda de Conversas

Thiago Amazonas de Melo

Não acreditem em nada do que eu digo aqui. Isso não é um diário. Eu minto.

prata-na-crônica

Crônicas, Jornalismo e outras Narrativas

Livros e Leitura

Universo mágico da leitura

Riksaint Space

Um espaço dedicado às energias renováveis.

Estalos da Vida

As vezes a felicidade começa em um estalo!

Sobre os dias

sensações, vinhos e faltas.

Vila das Noivas

por Ingrid Martins e Aline Farias

%d blogueiros gostam disto: