A culpa é do Deodoro

Por essas e outras, é que acho que a culpa de tudo o que está acontecendo é da turma de militares que se juntou para dar o golpe no imperador banana e botar o marechal no poder. Quem estiver de acordo, compartilhe.

Na antevéspera de mais um aniversário republicano (123 anos) e com eleições municipais a menos de um mês, cujos candidatos, por vezes, estão mais para humoristas de quinta do que para administradores e legisladores que as nossas cidades precisam, fico me perguntando o que teria acontecido ao Brasil se o império não tivesse acabado, mas, sim, evoluído.

Vou logo avisando: estou mais para anarquista do que para monarquista, embora meu sangue plebeu ferva a cada manifesto azul da realeza, principalmente a britânica.

Talvez seja exatamente nisso que as monarquias, mesmo as constitucionais, se transformaram: puro glamour, deliciosos escândalos, entretenimento para leitores das revistas de celebridades, muita aparência, decorativa mesmo, postiche, como dizem os franceses.

Se as monarquias não resolvem todos os problemas socioeconômicos, pelo menos têm o seu encanto, né? Uma noiva plebeia adentrando a nave da igreja já é uma visão maravilhosa, imagine uma princesa ou uma candidata a? Que o digam os dois bilhões de terráqueos, em abril do ano passado, que assistiram ao casamento do príncipe William, da Inglaterra, com a linda plebeia – milionária, bem entendido – Kate Middleton.

E se o Brasil ainda fosse monárquico, hein? Teríamos nossos próprios escândalos reais. Príncipes fantasiados com uniforme ‘nazi’ em festinhas temáticas, príncipes fotografados bêbados e pelados, ao lado de garotas igualmente em pelo, jogando strip poker (aquele que tira uma peça de roupa a cada derrota), mulher de príncipe fotografada de topless, pai casado de príncipe com amante casada, mãe chifruda de príncipe dando o troco no marido-príncipe adúltero, rainha ou rei mantendo as aparências para segurar as pontas de uma numerosa família (sur)real, tão barraqueira quanto as do fictício Divino carioca… Nossa! Ia ser o máximo! Os britânicos não nos fariam mais inveja. E, de quebra, ainda herdaríamos a pontualidade. Bem, talvez não alcançássemos tanta chatice.

Mas e quanto aos escândalos políticos? Seriam tão graves quanto os que enfrentamos na República? Há quem garanta que não haveria espaço para mensalões ou mensalinhos. Será? E como estaria a distribuição da riqueza produzida? Menos desigual? Sei não…

Herdeiros do regime que atravessou praticamente todo o século 19 no Brasil e colocou a ex-colônia na mídia internacional, trouxe estabilidade política, crescimento econômico e liberdade de expressão (sob o reinado do segundo Pedro) – além de ter combatido a corrupção – defendem a restauração de uma monarquia constitucional, com a figura do imperador como defensor do povo. “Se os deputados e senadores não cumprirem com as promessas de campanha, o imperador intervém, fecha o congresso e convoca novas eleições. Se começar a haver roubo, o imperador intervém e coloca o sujeito para correr”, palavras do príncipe dom Pedro de Orleans & Bragança, em entrevista ao jornal Tribuna do Norte, alguns anos atrás. “O rei, o imperador, não é partidário, ele defende a Pátria. Ele não tem nada, está ali para defender o povo, não tem interesse partidário. O interesse dele é o bem-estar social, o bem-estar do povo. Quanto custa hoje uma campanha para presidente? Quanto se gasta na televisão? Na Monarquia isso não acontecerá”, falou e disse o esperançoso e otimista monarquista.

É, parece que os republicanos fizeram tudo errado mesmo. Prometeram – e continuam prometendo – o que não podiam cumprir. Quem argumenta é a historiadora e antropóloga da USP, Lília Moritz Schwarcz, autora de ‘As Barbas do Imperador’ e ‘Retrato em Branco e Negro’, em entrevista ao Valor Econômico, em outubro de 2011. “A República prometeu inclusão social, mas expulsou a pobreza para a periferia, criou os subúrbios, as favelas”.

Não há como afirmar que o Brasil estaria melhor se, em vez de presidente eleito pelo povo, à custa de conchavos e trocas entre partidos, tivéssemos um rei guardião apartidário e um primeiro-ministro eleito por um parlamento. O fato é que este nosso modelo republicano centenário só não caducou no estilo ‘impunidade’ de fazer corrupção, quesito em que está a cada dia mais criativo.

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

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