Quando sei de alguém (eu, inclusive) que, vez por outra, não assume os próprios “vacilos” − atenuante da vez para “erros” −, fico imaginando de onde um cara chamado Lawrence Kohlberg tirou que a humanidade é capaz de alcançar elevados níveis de perfeição moral.
O psicólogo norte-americano, morto há quase trinta anos, definiu seis estágios para o nosso desenvolvimento moral. Desde obedecer por medo da punição ou agir corretamente somente por interesse próprio (primeiros estágios), até ter atitudes corretas por lealdade ou empatia (últimos estágios), são muitas as experiências vivenciadas da infância à maturidade, lapidando costumes e fazendo-nos refletir sobre o melhor modo de se viver em sociedade.
Independentemente de como fomos educados: “Beba e dirija”; “Atravesse no sinal vermelho”; “Ameace pedestres que ousem cruzar a faixa quando você está super atrasado”; “Assuste ciclistas intrometidos que insistem em se apossar de alguns centímetros junto ao meio-fio”; “Viaje no feriado imprensado e minta para o chefe de que está doente”; “Monte os caquinhos daquela linda peça que deslizou das suas estabanadas mãos e deixe-a ‘intacta’ no mesmo lugar”; “Não devolva o iphone novinho que encontrou no escurinho do cinema (‘achado não é roubado’)”; “Numa manobra infeliz que arremessa o retrovisor do carro estacionado vizinho ao seu, saia de fininho”; e inúmeros outros ensinamentos tais, pois não é que o cara defendia que todos nós somos capazes de transcender os valores da nossa própria formação? Em outras palavras: podemos evoluir moralmente, mesmo que tudo ao nosso redor não coopere para isso. Isso me deixa, de certa forma, aliviada: ainda há esperança para nós, brasileiros, e para a humanidade em geral.
A maioria de nós, segundo Kohlberg, permanece em estágio intermediário. O que nos mantêm na linha são as leis e regras sociais. A punição aos infratores é essencial para a manutenção da ordem. De forma simplista, o raciocínio para a prática da impunidade é mais ou menos o seguinte: “Se alguém errou e não foi punido, então eu também posso e vou errar”. Não é o ideal, mas já está de bom tamanho, porque atingir o estágio moral mais elevado é privilégio de poucos. Baseado em princípios éticos universais (igualdade, respeito e capacidade de se imaginar no lugar do outro), nessa etapa os indivíduos agem corretamente pelo bem da humanidade, e não por obediência, recompensas ou medo do castigo.
Quando presencio fatos como o da recente absolvição da deputada federal Jaqueline Roriz, no processo de cassação na Câmara (flagrada, em vídeo, recebendo grana ilícita, em 2006, quando não exercia mandato), percebo o que Kohlberg quis dizer com quebrar regras em nome do bem coletivo. Cumpriu-se a lei, é verdade, mas perdemos a oportunidade de ver elevada a ética da Casa que representa a todos nós.
Moral da história: o caixa 2 que estava aqui…
11 setembro, 2011 at 9:31 am
Nosso país é regido pela “Lei de Gerson”, que instiga o povo à cometer todas as barbaridades mencionadas por voce nesse artigo.
Quem não age assim, se sente na “contramão do mundo”…Um contra-senso!