Ms. Loy era a professora de 5ª série da minha filha em uma escola pública de Nova York. Só fomos conhecer o seu primeiro nome – Julia – no final do ano letivo, quando trocamos endereços a fim de continuarmos o contato após nosso retorno ao Brasil.
Para uma criança de 10 anos acostumada nas escolas brasileiras a chamar todos os professores de ‘tia’ fulana ou ‘tio’ sicrano, o tratamento formal e respeitoso Senhorita, Senhor ou Senhora era, no mínimo, diferente. Na escola norte-americana, eu também sofri a minha cota de estranhamento ao não ser chamada de ‘mãezinha’, mas Sra. Bitar (sobrenome do meu marido).
Antes que os nossos compatriotas sensíveis e afetivos pensem que a Srta. Loy era uma professora fria e arrogante, já vou dizendo: ela era uma jovem meiga, mas firme, e altamente qualificada para o cargo. Não, o diretor não era autoritário, nem a escola super rígida. Ela cumpria a sua função, ou seja, incentivava a aprendizagem de matérias específicas e valorizava a disciplina. Questão de cultura, então? Sim, pode ser… Será?
Uma cultura que, diferentemente dos povos de países desenvolvidos e democráticos, abandonamos há uns quarenta anos. Qual foi mesmo a corrente psicopedagógica que instituiu essa forma ‘carinhosa’ de tratar os mestres dos nossos filhos? Gostaria de propor uma homenagem ao seu idealizador: construir-lhe uma estátua em cada praça. O país ficou menos violento, os jovens mais educados, a família mais feliz e a escola, principalmente a pública, mais competente.
Vale uma passadinha em Paulo Freire no Professora, sim; Tia, não!, onde o educador traz para o debate a desvalorização do professor, transformado “num parente postiço”, conformado com os baixos salários, as péssimas condições de trabalho, a falta de tempo para estudar… e o desrespeito. Os laços afetivos foram supervalorizados e o compromisso da escola com a construção do conhecimento foi esquecido.
Vamos combinar, escola não é lugar para resolver carências afetivas, para isso existem a família e as terapias. Pior, no Brasil do século XXI não só os professores, mas inúmeros outros profissionais foram transformados em ‘tios’ e ‘tias’: pediatras, dentistas, psicólogos, treinadores… É um parentesco sem fim que confunde a todos. Vamos mudar isso?
Legenda foto: Julia Loy e Camila Bitar
10 agosto, 2011 at 8:56 am
CELMA, ADOREI!!! MUITO BEM ESCRITO, VOU COMPARTILHAR COM MEUS AMIGOS DO FACEBOOK.
10 agosto, 2011 at 9:14 am
Celma, adorei a crônica, muito bem escrita, parabéns!!!
10 agosto, 2011 at 4:05 pm
A crônica é maravilhosa, adorei!!!
28 agosto, 2011 at 9:17 am
Obrigada, Cris! beijão