“Cara de cearense”

“Gente, quem é Pablo Vilaça? Essa pessoa se intitula crítico de cinema, tem cara de cearense, percebi que ele quer 5 minutos de fama.” (Antonia Fontenelle)

Alguém aí já tinha ouvido falar em Antonia Fontenelle? A autora da tuitada infeliz que destruiu em segundos o trabalho de vários meses do marido, o estreante diretor de cinema Marcos Paulo, 60 (“Assalto ao Banco Central”, 2011), foi torpedeada − com razão − com inúmeros comentários desfavoráveis, ou não, à sua reação contra uma crítica ao tal filme: “Ela escreveu no twitter que ele [o crítico] tinha cara de cearense… Agora vem com desculpas esfarrapadas e ridículas… Ficou mais feio ainda…”; “Horrível não podermos mais nos expressar!”; “Antigamente, quando queriam inferiorizar alguém chamavam de balconistazinha da Slopper, empregadinha doméstica e por aí afora. São expressões rudes que só eram ditas em círculos fechados, mas isso mudou, então é preciso tomar cuidado, sim, e se desculpar imediatamente”.

Fiquei me olhando no espelho… Como é mesmo ter “cara de cearense”? Um nariz que separa dois olhos, duas orelhas que separam uma cabeça, testa e boca para arrematar? Mas isso é a cara de qualquer animal, seja do Ceará ou do Azerbaijão. OK! Deixei de mencionar um pequeno detalhe que diferencia o ser humano cearense de todos os “belos” brasileiros, feito “dona” Antonia Fontenelle: a cabeça tem que ser “chata” e montada sobre um pescoço que não ultrapasse os cinco centímetros de comprimento.

Em uma sociedade como a nossa, onde valores estéticos vencem, em disparada, os valores éticos, é preferível um rosto oval, cabelos chapeados e oxigenados, pele sedosa e olhos claros, a uma conduta responsável, solidária e justa. Lembrando que qualidades interiores e físicas não são excludentes.

Minha crítica não é moralista, acredito mesmo que não existam pessoas totalmente desprovidas de preconceitos, mas não custa lembrar os ensinamentos dos nossos pais quando brigávamos com nossos irmãozinhos: “Não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você.” Simples assim. Portanto, vamos pensar duas vezes antes de abrir a boca para chamar pejorativamente − ou não − alguém de crioulo, veado, cabeça-chata, puta, pobre etc.

Esse imbróglio todo teve uma serventia de apenas quinze minutos, ou “cinco”: o tempo que durou a fama da desconhecida atriz que fez uma ponta no dito filme. Reconheça que pisou na bola, Antonia! Peça simplesmente desculpas e não tente se justificar. Os “cabeça-chatas” exigem e agradecem.

Sobre Celma Prata

Celma Prata é jornalista e escritora fortalezense. Autora do romance “Bodum” [2022], “Confinados” [2020], finalista do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Conto; do romance "O segredo da boneca russa" [2018]; e dos livros de não-ficção "Viver, simplesmente" [2016]; e "Descascando a Grande Maçã" [2012], todos pela Editora Sete. É membro da Academia Cearense de Letras, da Academia Fortalezense de Letras, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil e da Sociedade Amigas do Livro, entidade cultural em que presidiu o conselho diretor, de 2016 a 2020. Ver todos os artigos de Celma Prata

7 respostas para ““Cara de cearense”

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

365 Days of Lebanon

one post a day of Lebanon through my eyes

Antimidia Blog

Textos sem sentido, para leituras sem atenção, direcionados às pessoas sem nada para fazer.

Resenha do Dexter

Blog sobre tudo e nada, ou seja, sobre o que eu escrever (E resenhas de Livros)

Admirável Leitura

Ler torna a vida bela

Reverso Literal

Blog, poesia, prosa, contos, escritos, literatura, arte, imaginação, livros

Lugar ArteVistas

#arteondeestiver

Farol Abandonado

poesia profana, solitária e melancólica

Diferentes Tons

Artes, Literatura, Moda

RePensandoBem

Roda de Conversas

Thiago Amazonas de Melo

Não acreditem em nada do que eu digo aqui. Isso não é um diário. Eu minto.

prata-na-crônica

Crônicas, Jornalismo e outras Narrativas

Livros e Leitura

Universo mágico da leitura

Riksaint Space

Um espaço dedicado às energias renováveis.

Estalos da Vida

As vezes a felicidade começa em um estalo!

Sobre os dias

sensações, vinhos e faltas.

Vila das Noivas

por Ingrid Martins e Aline Farias

%d blogueiros gostam disto: