Era o ano de 2001. Caímos de amores por tudo o que ele tem de bom: o charme antigo e encantador da sua capital, as ricas regiões rurais, as auto-estradas que nos permitem atravessar o país longitudinalmente (o popular “de cabo a rabo”) num piscar de olhos, a comida divina, os tintos maravilhosos, os queijos idem, os azeites incomparáveis, um povo com forte senso de profissionalismo, sem falar da enorme vantagem – para nós – do idioma, mesmo que não nos entendamos à primeira fala. Mas o que conquista mesmo é a camaradagem para com os brasileiros. Sem falar que estamos a apenas 6 horas de distância, privilégio de quem mora na cidade brasileira mais próxima da Europa. Sorry, Sudeste e Sul, não temos culpa de estarmos tão perto da civilização…
Sempre que o tema era “férias na Europa”, meu pensamento – comigo junto – voava à Paris, como se todo o resto do continente estivesse caduco, morto e enterrado. Uma questão de preferência, embora minha avó tivesse outra opinião: “gosto não se discute, lamenta-se”.
E quando o gosto cheira a preconceito? Quem já não ouviu o célebre “não conheço e não gosto”? Será que podemos creditar tal radicalismo à possibilidade da maioria ter gazeado as aulas de Geografia e, de quebra, as de História? Senão vejamos.
Experimente falar que é do Brasil para um europeu, norte-americano ou qualquer outra nacionalidade da linha do Equador para cima, e logo perguntarão sobre o Rio de Janeiro, tangas, carnaval, samba, Pelé (antigamente), Ronaldão (ontem) e Ronaldinho (hoje). Um ou outro “mais bem informado” comenta sobre a violência urbana que ouviram falar não sabem onde ou viram em algum filme norte-americano etc e tal.
Brasileiros não fogem à regra: Ao seu amigo brasileiro você fala que vai ao Peru, e ele não comenta nada além de Machu Picchu, como se Lima tivesse sido varrida do cardápio. Quando o papo é Argentina, o máximo que você vai arrancar do seu colega de trabalho, além do tango de Buenos Aires, são alguns comentários sobre “esqui-bunda” em Bariloche.
Continuando nessa linha estereotipada de pensamento, lembro perfeitamente das famosas excursões para a Europa “Ao Retornar ao Brasil, Tire Férias”. Tratava-se de uma maratona de 30 dias por 10 países, uma média absurda de dois dias por país, o restante era em estradas e aeroportos. Os caras, com toda razão, retornavam meio confusos (“comemos uma pizza naquela torre torta!”) e e-xaus-tos (precisamos de férias!), porém maravilhados com tudo. Ou “quase” tudo. Portugal? Quanta decepção! Atrasado, povo mal-humorado, carros velhos, prédios mal-conservados, péssimas estradas, etc. e tal.
Todo esse lero-lero é para demonstrar que o danado do preconceito, filho biológico da ignorância e primo em primeiro grau da falta de conhecimento, além de todos os conhecidos males, ainda nos priva de muitos prazeres.
Presos em suas armadilhas, a verdade é que eu e meu cúmplice de três décadas de segredos e planos adiamos por várias vezes a primeira visita ao “primo pobre” do “Velho Mundo”.
Os investimentos euro-bilionários nesses 20 anos de adesão à UE – Expo 98 no pacote-, resultaram em grandes mudanças, com destaque para o harmônico contraste entre Lisboa antiga e nova – vide Parque das Nações -, mas o valor daquele belo país sempre esteve lá.
Na cultura intocável dos tradicionais lisboetas, na manutenção da “pisa” do vinho, na forma artesanal de fazer o queijo e até na “teimosia” dos moradores das aldeias com seus “escudos” pra lá, “contos” pra cá, quando a nova moeda já comemora seu oitavo ano, sendo cinco só de circulação. Também é verdade que continuam a reclamar de TU-DO, mas até isso é divertido. Que o poeta-mor da heteronímia, em pessoa, perdoe o parafraseado: “Portugal só não é mais belo que o meu país porque Portugal não é o meu país”.
Não abandonamos, contudo, os velhos amores: ainda nos restou uma semaninha para a “Cité lumière”, ulalá!
História:
Durante séculos, Portugal ficou totalmente virado para o oceano com suas explorações e descobrimentos, ou seja, desgarrou-se politicamente da Europa. Este período encerrou-se com a descolonização em 1975. A nova imagem de Portugal coincide com a volta da sua presença política na Europa. Não que estivesse totalmente desligado, mas sua entrada na UE resgatou sua antiga presença política. Voltou a ser um país essencialmente europeu.
Portugal na estrada:
O país possui uma boa rede viária:
- Auto-Estradas (AE)
- Itinerários Principais (IP)
- Itinerários Complementares (IC)
- Estradas Nacionais (EN)
- Estradas Municipais.
Os limites máximos de velocidade para automóveis:
- 50 km/hora – dentro das localidades
- 90 km/hora – nas vias normais
- 100 km/hora – nas vias reservadas a automóveis
- 120 km/hora – nas auto-estradas.
Em caso de avaria ou acidente na auto-estrada: telefone 808 508 508 (chamada local).
Uma taxa de álcool igual ou superior a 0,5 gramas/litro implica proibição de dirigir.
O uso do cinto de segurança é sempre obrigatório.
Para os motoristas com dificuldades de locomoção, ou que o preferirem, é possível o aluguel de veículos com câmbio automático ou adaptados.
Para o aluguel de automóvel é necessário:
- ter idade mínima entre 21 e 25 anos, dependendo da locadora;
- apresentar documento de identificação (bilhete de identidade para os cidadãos da U.E. ou passaporte válido para as outras nacionalidades);
- licença de motorista válida há mais de um ano.
Dicas:
- Alugar um carro com GPS. Custa os olhos da cara, mas economiza a garganta, o tempo, o combustível, o juízo, … O.k., vacilamos!
- Hospedar-se em seculares residências de famílias tradicionais (Turismo de Habitação) e nos alojamentos das próprias vinícolas é o grande diferencial desse roteiro.
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